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Directório Global das TIC | Empresas e Profissionais | 2019/2020

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26 OPINIÃO O

26 OPINIÃO O capitalismo ocidental não está a cumprir as expetativas que fomos acumulando: vivemos uma época de pleno emprego, mas o crescimento económico tem sido anémico, a desigualdade da distribuição da riqueza tem aumentado (muito!) e a mobilidade social tem reduzido. Permitam-me contextualizar. Durante muito tempo andei às voltas com este tema da responsabilidade social, da sustentabilidade, do propósito das organizações e faltava-me uma ligação entre isto e o que, ao longo da minha formação, aprendi ser o objetivo único de uma empresa: o lucro. Eu, como muitos de nós, fui treinado e fiz caminho com um referencial capitalista muito agressivo, em que as empresas tinham um único objetivo: maximizar o lucro dos acionistas. Sou da geração X, como a maior parte de vós, provavelmente. As preocupações de ética, moral e sustentabilidade pertenciam a outro espaço (à educação em contexto familiar e ao papel do Estado). Por isso, todas estas coisas me soavam um pouco a marketing vazio e inconsequente e, provavelmente, eram em alguns casos. Felizmente, tenho o privilégio de pertencer a uma organização que leva profundamente a sério o seu quadro de valores e o seu manifesto de responsabilidade social. Posso testemunhar que isto está muito presente na cultura e que se sente nas pessoas. E isso confrontou-me ainda mais com esta espécie de “aparente paradoxo do capitalismo”. Nesta empresa tropeçamos nestes sinais em cada esquina do escritório. E quando é assim e estamos “acordados para a vida”, não há como não fazer a viagem e ir à procura das respostas. A dado passo, fatal como o destino, há que fazer uma escolha: ou se acredita, ou não. EM QUE MUNDO ESTAMOS A TER ESTA DISCUSSÃO? Olhando à volta, vemos um mundo em que a globalização e a revolução digital distorcem os alicerces do modelo económico e político ocidentais (o capitalismo e o Estado-providência). Nos últimos anos surgiram empresas megaglobais, que acumularam riqueza e poder para além do controlo de qualquer Estado (à cabeça das quais estão as maiores da economia digital). Vá lá… Sem pudor… O capitalismo ocidental não está a cumprir as expetativas que fomos acumulando: vivemos uma época de pleno emprego, mas o crescimento económico tem sido anémico, a desigualdade da distribuição da riqueza tem aumentado (muito!) e a mobilidade social tem reduzido. A lista catastrófica de externalidades é assustadora, com a emergência ambiental no topo da lista. Para agravar a situação, as grandes empresas são acusadas de uma longa lista de pecados “mortais”: comportamentos eticamente condenáveis dos seus gestores, exploração de pessoas, evasão fiscal sem precedentes, falta de investimentos de qualidade, etc.

DIRETÓRIO DAS TIC 27 Por outro lado, os Estados têm genericamente falhado na regulação do modelo económico, na sustentabilidade do modelo social e na sua ligação com as pessoas. Os Estados apropriam-se de parte significativa da riqueza gerada pelas organizações e pelos cidadãos e em troca asseguram as plataformas básicas de saúde, integridade territorial, justiça e educação, mas, convenhamos, têm-no feito mal. Há um défice generalizado de confiança, distanciamento e falta de meios. É neste mundo que está a ser forjada aquela a que alguns chamam a revolução da sustentabilidade, que, a par da revolução digital, está a mudar o mundo como o conhecemos até agora. É neste mundo que vemos uma pressão cada vez maior para que as empresas desempenhem um papel cada vez mais relevante na sociedade à sua volta. Inclusão social, ética e moral, responsabilidade ambiental, mobilidade, melhor distribuição de riqueza, educação, assistência à saúde, diversidade cultural, estas são a exigências do “caderno de encargos” que a sociedade está a entregar às empresas. Em agosto deste ano, a America’s Business Roundtable (representada pelos CEOs das 180 maiores empresas americanas) declarou ter definitivamente abandonado o modelo de primazia do acionista e ter passado para um modelo multistakeholder, incluindo neste paradigma colaboradores, clientes, comunidades, parceiros e afirmando reconhecer que a sociedade precisa e exige às empresas um papel ativo na resolução dos desafios mais complexos que tem pela frente. E porquê? Pensem comigo: a riqueza é gerada nas empresas. É, portanto, aqui que estão os meios para fazer política. São também as empresas que têm o espaço de proximidade maior com as pessoas e uma capacidade de influência direta (posso não ir votar, mas vou trabalhar todos os dias…). As empresas operam também em rede e têm, por conseguinte, uma enorme capacidade de alavancar as suas ações. O CÉTICO ... a sociedade precisa e exige às empresas um papel ativo na resolução dos desafios mais complexos que tem pela frente. O meu ponto de partida foi (confesso-vos) desafiar esta tendência com uma bateria de perguntas, algumas técnicas, outras ideológicas, todas de um bom ortodoxo conservador. Afinal não é a procura do lucro que estimula todas as decisões racionais de investimento e crescimento de uma empresa? E não foi este modelo que, nos últimos 50 anos, nos trouxe a prosperidade e o desenvolvimento social que temos hoje?

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