4ª SESSÃO | DIGITAL UNION: ECONOMIA DOS DADOS Ricardo Rosa Head of Innovation, Sonae Sierra “A Europa continua confusa na definição dos conceitos quando falamos de dados. Retirar valor dos dados para o negócio e para a eficiência é um campeonato, os dados pessoais são outro campeonato. Quando os misturamos, dificulta-se tudo. A esquizofrenia na forma como a Europa olha para isto é muito real” “Existe um nível bastante elevado de literacia ao nível as elites em Portugal, mas uma cultura de dado muito difusa sobre o seu valor da tomada de decisão. Ainda temos caminho a andar. Existe, neste momento, um acordar para esta érea que é muito visível ao nível das organizações” “Na prática, nos últimos anos, o que tem vindo a acontecer, é que a forma como a Europa olha para os dados pessoais revela uma dificuldade em entender onde estão as áreas cinzentas onde nos podemos mexer, para criar valor para a empresas e para os clientes e onde podemos inovar. Por isso, o valor que se retira deles é limitado, já que nunca se sabe bem o que é que se pode fazer e até onde se pode ir” negócio e de eficiência é um campeonato. Os dados pessoais são outro. Quando os misturamos, dificulta tudo”, havendo uma espécie de “esquizofrenia” na forma como a Europa olha para o tema, que “é muito real”. Para o gestor, “existe um nível bastante elevado em Portugal de literacia ao nível as elites, mas, em paralelo, uma cultura de dados muito difusa sobre o valor na tomada de decisão. Ainda temos caminho a andar, em geral”, embora haja já um “acordar para esta área, que é muito visível ao nível das organizações, que não havia há uns anos”. Sobre os dados pessoais, Ricardo Rosa considera que há uma “diabolização” da sua utilização, quando “ninguém pensa em vender dados de qualquer cliente. É impensável”. Mas, na prática, o que tem vindo a acontecer ao nível europeu, tendo em conta a forma como Bruxelas tem olhado para o tema, é uma crescente dificuldade em perceber “onde estão as áreas cinzentas onde nos poderemos mexer, dentro do que é criar valor para a empresas e para os clientes”. O que trava a inovação, que é um dos objetivos da CE. HARMONIZAÇÃO É VITAL “No final, o investimento na gestão e tratamento de dados, retirando valor deles, é limitado, porque nunca se sabe bem o que é que se pode fazer e até onde se pode ir. Criou-se um terreno de difícil gestão, numa área onde a Europa quer ser líder, mas onde ainda não decidiu ainda o que quer fazer”, explica, embora admita que “nem tudo é mau de todo”. Nomeadamente ao nível dos objetivos de harmonização na UE27, um caminho que considera ser “absolutamente crítico. Encontramos soluções de inovação que implementamos e
9 temos que as escalar. E isso ainda é complexo, porque temos que olhar para as especificidades de cada país, colocadas em cima da legislação europeia. A situação está melhor, há uma direção correta, mas ainda temos caminho a andar na harmonização”. Neste período de debate, moderado por Tiago Bessa, Sócio da Área de Comunicações, Proteção de Dados & Tecnologia, PI Transacional, da VdA, e por Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APDC, questionada sobre quais devem ser as principais preocupações de uma empresa num projeto concreto, Magda Cocco começou por destacar que se deve “olhar para os dados de uma forma holística e não projeto a projeto”. Ainda assim, no desenho de cada projeto, a inovação terá de estar sempre alinhada com a regulamentação, num processo de permanente “colaboração interativa” entre as várias áreas. Sendo a tecnologia um enabler, não será a estratégia da CE, de múltiplas regulamentações, um entrave, face a outras regiões que adotam menos regulação e promovem uma inovação mais rápida? Para o gestor da Microsoft, não se trata efetivamente de um problema de tecnologia, que efetivamente existe, mas de cultura, que “dá capacidade às pessoas e poder às equipas, o que fomenta claramente a inovação”. Defendendo que a “cultura é fundamental, para que as pessoas olhem para a informação e tomem decisões com base nela, o grande desafio é incuti-la”, promovendo-se ambientes de experimentação e de inovação. “Capacitar as empresas e as pessoas para utilizar a informação e tomar decisões é o que vai criar valor económico e potenciar a inovação. Inteligência artificial, cibersegurança, dados abertos... são fundamentais. Para isso, precisamos de apostar na formação das pessoas. Esta economia de dados é fundamental para o crescimento económico e o o desenvolvimento em geral”, remata. Já num grupo de um setor tradicional como os seguros, a Ageas tem tido alguns desafios ao nível da integração tecnológica, tendo em conta o ecossistema grande e complexo de dados, assim como nos dados pessoais e nas obrigações de informação. “Os seguros têm tido uma viagem bastante longa. Reconhecemos que se esta viagem se não for feita, não conseguimos atingir os objetivos definidos. Há temas de natureza tecnológica, de literacia, de cultura, que são bastante complexos”, explica Pedro Machado. Enquanto DPO, o seu papel é de “promotor de uma mudança de cultura e pensamento. Não ficar apenas a olhar para o que não se pode fazer, mas conseguir explicar às pessoas as vantagens”. Trata-se de uma “evangelização, uma consciencialização para a mudança de mindset e de cultura”. Na atual conjuntura, o responsável da Sonae Sierra admite que ainda não é fácil monetizar os dados. “Estamos todos a apalpar terreno e a tentar encontrar a melhor forma de criar valor. Embora queira entender a forma como a CE vê a lógica de partilhar dados públicos, não é a que faz mais sentido. Temos é que melhorar a relação com os clientes e com isso trazer-lhes valor. É um caminho que está a ser feito e que não é fácil, porque é uma forma diferente de pensar e atuar, que tem a ver com a transição o digital”. Concordando que “a maior dificuldade não é a tecnológica”, Ricardo Rosa diz que “às vezes escalar é complicado. A tecnologia está lá, mas é difícil fazer em escala”.•
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