Views
3 weeks ago

COMUNICACOES 253 - MARIA MANUEL MOTA - SEM CIÊNCIA NÃO HÁ FUTURO

  • Text
  • Apdc
  • Business
  • Science
  • Ciência
  • Negócios
  • Futuro

À CONVERSAPortanto, era

À CONVERSAPortanto, era muito fácil mantertodos contentes. Aposto que seo Mariano Gago quisesse aplicara mesma receita agora isso nãofuncionava. Agora, temos umaestrutura enorme, diferente,diversa...MAS O FACTO DE A ESTRUTURADE INVESTIGAÇÃO EM PORTUGALTER CRESCIDO É BOM PARAA INOVAÇÃO DO PAÍS...Claro. Atenção, a estruturanão tem de ser mais curta, temde ser é estruturada, tem de serpensada... Tem de haver umaestratégia. Mas isso é muito difícil.Há pessoas com muito boasintenções, mas é muito difícil fazê-lonuma estrutura desorganizada.COMO É QUE ISSO SE FAZ?EM ECOSSISTEMA?Tem de ser quase recomeçando,num papel em branco. Tem se sefazer uma avaliação do que existe,É muito importantepassar a mensagemde que não valea pena defendermosuma nação, umcontinente, semo futuro. E o futuroestá no conhecimentoe na ciência.porque a maior parte das coisase das pessoas estão repetidas emvárias estruturas. Por exemplo,se há dinheiro para os CoLAB,cria-se uma nova estrutura,quando já existe uma estruturaseparada para o IMM, para oTécnico... Não precisava de serassim. Criamos estruturas comocogumelos. Pertenço ao ConselhoNacional de Ciência, Tecnologia eInovação desde que foi criado, notempo da Troika, onde metade doselementos são empresas, CEO oupessoas ligadas à inovação. Temosde chegar lá e começar a desenhar.E as pessoas querem fazê-lo, sóque é difícil, porque implica mexerem muitos poderes instaladosminúsculos. Devíamos começarpelas pessoas, porque há pessoasque são do sistema universitário enão vão sair, porque têm empregospermanentes, muitos no Estado.Mas muitos delas pertencem,provavelmente, a três ou quatroestruturas. Temos é de garantirque fazem parte apenas de umaestrutura. Temos de usar os recursospara o que é possível fazer com aspessoas que temos, com os serviçosmínimos. E, a partir daí, ver comopodemos crescer com as melhorespessoas que veem de fora, porqueo sistema tem de ser dinâmico,de ter sempre novos elementos.MAS QUAL É O IMPACTO DESTASITUAÇÃO? OS CIENTISTASESTÃO A SAIR? CONSEGUIMOSCAPTÁ-LOS LÁ FORA?Neste momento, o GIMMabriu um concurso – o primeiroconcurso para group leaders– e temos candidaturas 'top',quase todas de pessoas queestão nos Estados Unidos. Estaé uma oportunidade incrívelpara a Europa, que temos de saberaproveitar.A Áustria, a Bélgica ou a Holandatêm sistemas de ciência quefuncionam, independentementedo poder político. Em Portugal,esta estrutura deveria serindependentemente do poderpolítico ser mais à esquerdaou mais à direita, porque o queestá em causa é a criação deconhecimento para o país. Estedeveria ser um pilar transversale em que todos estivessem deacordo e nós, enquanto instituições,adaptarmo-nos. O problema écomo é que se vai financiar e queestrutura vamos ter.QUAL É A MENSAGEM QUE DEIXAAO NOVO GOVERNO QUE ACABADE TOMAR POSSE?É preciso criar uma estruturaque seja consistente, confiável.E depois também há o problema dofinanciamento. Para que possa haveresse concurso todos os anos, diriaque tem de haver 100 milhões deeuros em Orçamento do Estado.ACABOU DE DIZER QUE A SITUAÇÃONOS ESTADOS UNIDOS, ONDE TEMSIDO CORTADO FINANCIAMENTO ÀINVESTIGAÇÃO, REPRESENTA UMAOPORTUNIDADE ÚNICA PARA AEUROPA. OS RECENTES ANÚNCIOSDE BRUXELAS VÃO NESSE SENTIDO?Muito pouco. O dinheiro que foidesbloqueado, na prática, é muitopouco. E claro que estamos todoscom medo, porque se o dinheirovai todo para a defesa, como é quevai para outras áreas? É muitoimportante passar a mensagemde que não vale a pena defendermosuma nação, um continente,sem o futuro. E o futuro está noconhecimento e na ciência.ENQUANTO CIENTISTA, COMO É QUEVÊ O MUNDO NESTE MOMENTO?É muito triste pensar que o queachava ser a normalidade não o é.Em História, estudamos todas asguerras, mas na verdade fomosprivilegiados na nossa região domundo. Era normal estarmos empaz. Por um lado, é bom porquevivemos este lado privilegiado. Mas,por outro lado, é péssimo pensarmosque é terrível o que vamos deixar.Dizendo isto, sou otimista pornatureza. Acho que somos capazesde conseguir dar a volta, temos deo conseguir. É mesmo de coraçãopartido que falo do que está aacontecer nos Estados Unidos, masainda acredito que o povo americanovai conseguir dar a volta a isto. Têmmentes brilhantes e uma estruturamuito poderosa que está a serabanada por todos os lados, mas queainda tem alicerces suficientementefortes para se conseguir aguentar.A TECNOLOGIA TEM VINDOA TRANSFORMAR PROFUNDAMENTEA CIÊNCIA. COMO VÊ ESTALIGAÇÃO, PARTICULARMENTEAGORA, COM A DISRUPÇÃO DA IA?Tecnologia é ciência. Ou seja, nãoexistiria tecnologia se não houvesseciência. Mesmo a nossa ciênciasempre esteve ligada à tecnologia.Se for à nossa secção demicroscópios, nem percebeque a maior parte se trata demicroscópios, são caixas. Tenhocolegas que só desenvolvemtecnologia para malária. Portanto,ciência e tecnologia estão ligadas.Ciência e business também. Sempretivemos cientistas que só pensamem ciência, e temos de os continuara ter, porque senão não existemnovas ideias para fazer negócios.O único problema é, politicamente,muitas vezes acharem que temos detrabalhar de mãos dadas. Não temosde trabalhar de mãos dadas, temosde trabalhar em ligação. Estarmosmais próximos e ter pessoas quefaçam esta comunicação. Para isso,GIMM: Uma nova ambiçãopara a ciência em PortugalEm outubro de 2024, nasceu o GIMM – Instituto Gulbenkian deMedicina e Microbiologia, fruto da fusão entre o Instituto de MedicinaMolecular e o Instituto Gulbenkian de Ciência. Para Maria Manuel Mota, aCEO do novo instituto, esta união representa “uma oportunidade fantásticapara Portugal”, podendo evitar duplicações e criar na ciência “uma estruturamuito forte”.O GIMM assume-se como uma fundação privada com participaçãominoritária de três entidades públicas – Universidade de Lisboa, Faculdadede Medicina e Hospital de Santa Maria – que aceitaram ter uma participaçãomenor no dia a dia da instituição. Do lado privado, estão a FundaçãoCalouste Gulbenkian, a Fundação La Caixa e a Arica, empresa da famíliaSoares dos Santos. Três entidades que trazem importantes mais-valias:internacionalização, capacidade financeira e know-how de gestão, comorefere a investigadora.A ambição é clara: “No futuro, queremos criar uma instituição que éconhecida no mundo. O que adoraria era que, em 10 a 20 anos, alguémestivesse a dizer que determinada coisa foi criada no GIMM, em Portugal”.Para isso, o plano é construir uma verdadeira escola de excelência científica,com identidade própria e elevada exigência. “Com rigor e com capacidadede criar”, salienta Maria Manuel Mota.Na sua raiz, a fundação assenta ainda numa estrutura aberta a novoscontributos ao nível do board. “Com o acordo dos outros fundadores,podemos convidar duas outras estruturas para fazerem parte do GIMM,com as mesmas obrigações, mas também com os mesmos direitos dosfundadores”, explica a investigadora, acrescentando que o objetivo é evitarque a instituição fique “cristalizada e fechada”.Com 550 investigadores de 40 nacionalidades e um novo edifício empreparação, o GIMM quer marcar presença no panorama global da ciência.“Não sei se vamos conseguir, mas gostaria”, afirma Maria Manuel Motarelativamente à ambição de colocar o GIMM entre as 10 melhores instituiçõesda Europa na sua área.22 | APDC | REVISTA COMUNICAÇÕES | JUNHO 2025 JUNHO 2025 | REVISTA COMUNICAÇÕES | APDC | 23

REVISTA COMUNICAÇÕES

UPDATE

© APDC. Todos os direitos reservados. Contactos - Tel: 213 129 670 | Email: geral@apdc.pt