À CONVERSAIrrequieta desde criança – ao ponto de lhechamarem “piolho elétrico” – Maria Manuel Motacedo descobriu o fascínio pela vida microscópica.Hoje, é uma das vozes mais influentes da ciênciae da investigação e lidera um dos mais ambiciososprojetos nacionais: o GIMM. Soma distinçõesinternacionais, como o EMBO Young InvestigatorAward, o European Young Investigator Award,da European Science Foundation, o prémio Pfizere o Prémio Sanofi – Institut Pasteur. Em Portugal,foi condecorada com a Ordem do Infante D. Henriquee agraciada com o Prémio Pessoa e o Prémio DonaAntónia.Licenciada em Biologia e mestre em Imunologia pelaUniversidade do Porto, doutorou-se em ParasitologiaMolecular pela University College London e fezinvestigação no laboratório do prestigiadoparasitologista brasileiro especialista em malária,Victor Nussenzweig, na New York UniversityMedical School, onde também lecionou. Desdeo seu regresso ao país, em 2002, deu continuidadea uma carreira sólida na que é a sua paixão:a investigação do Plasmodium, o parasitacausador da malária. Mas combinando isso coma sua liderança científica e um compromissofirme com a transformação do sistema científicoportuguês.Nesta entrevista de vida, a cientista einvestigadora fala com frontalidade sobreo estado da ciência em Portugal, dos desafiosde financiamento, da crónica falta de umaestratégia pública e da replicação de estruturasredundantes. Defendendo que a ligação entrea ciência, a tecnologia e o setor empresarialé crucial para a competitividade nacional, dizque é cada vez mais importante aproximara investigação do mercado, transformandoo conhecimento científico em valoreconómico e social.Por isso, aceitou o desafio de ser aPresidente do 34º Congresso da APDC.Afinal, os cientistas são “as raízes que,bem alimentadas e com estrutura, criamo conhecimento”. E se os negócios e aciência não precisam de “andar de mãosdadas”, precisam “de estar conectados”,arranjando “uma maneira eficiente de agirem conjunto”. É que é urgente preparar umfuturo com conhecimento. E deixa a mensagem:“Não vale a pena defendermos algo quenão tem futuro. E sem ciência, não há futuro.”O QUE A FEZ ESCOLHER A CIÊNCIACOMO OPÇÃO PARA A SUA VIDA?HOUVE ALGUM MOMENTO OUINFLUÊNCIA DECISIVA PARAESCOLHER UMA LICENCIATURAEM BIOLOGIA E UM MESTRADO EMIMUNOLOGIA?Tudo isso tem respostas diferentese ocorreu em momentos diferentesda vida. A verdade é que não sabiao que era ser cientista. O que tenhomais presente é que, muito nova,a minha mãe comprou-me, parao quinto ou sexto ano, o Atlas deCitologia: um livro sobre as células.Recordo-me também de uma aulade Ciências da Natureza onde, pelaprimeira vez, vi a casca da cebolaao microscópio e de ter a noçãode que aquilo se movimentava,porque, obviamente, tinha vida.Fiquei fascinada. Essa é a primeiramemória que tenho. Depois, comoera melhor a Ciências do que aLetras, a minha ideia era seguirMatemática. Gostava muito, mas aminha mãe achou que, por ser muitoirrequieta, não seria muito bom paramim. “Tens de fazer outra coisaem que não estejas tão parada”,disse-me. Para os meus pais,o ideal era que fosse professora.Achavam que era a melhorprofissão para uma senhora.ALIÁS, NUMA ENTREVISTA HÁ MAISDE UMA DÉCADA, DISSE QUE O QUEA SUA MÃE QUERIA MESMO ERA QUEFOSSE PROFESSORA, TOCASSE PIANOE FALASSE FRANCÊS...Exatamente. Tive sete anos defrancês, quando já ninguém tinha.Classicamente, para uma senhora,falar francês era muito melhordo que falar inglês e, portanto, naverdade, fui sempre orientada paraser professora. Mas no Secundáriotive dois professores de Biologia queme influenciaram completamente.A professora era mais dura, masensinou-me muito sobre genética.Já no caso do professor, na escolaconstava que a mulher era cientistada NASA, algo provavelmentefalso, mas que me fez pensar “Uau,isso é que era fantástico”. Fui paraBiologia um pouco por isso. Mascheguei ao curso e não gostei,porque era Macrobiologia. E, paramim, a Biologia era Microbiologiae, por isso, fiz a parte de Botânica,porque se relacionava mais comMicroscopia. Era isto que eu ia fazer,só que no final do 3º ano do curso(que era de quatro anos) comecei atrabalhar no Instituto de CiênciasBiomédicas Abel Salazar (ICBAS),no Departamento de Anatomia,com os professores Rui Águas eAntónio Sousa Pereira, agora reitorda Universidade do Porto. Foi aprimeira vez que comecei a fazerciência no laboratório e foi com elesque aprendi as primeiras bases.Estava a estudar e a trabalhar, tinhauma bolsa e já me sustentava. Masum dia, no laboratório, ao passarno corredor, vi um anúncio para omestrado de hematologia da Mariade Sousa…E TUDO MUDOU…Era uma cientista portuguesa,que tinha feito um doutoramentoem Inglaterra, ainda antes da UniãoEuropeia, e que depois foi paraos Estados Unidos, onde fez todaa carreira. Já era diretora de umdepartamento no Sloan-Kettering,mas voltou a Portugal, para o ICBAS,para ajudar a criar uma novageração de cientistas. O anúnciodas candidaturas a esse mestradodizia qualquer coisa como: “Queresser cientista? Então, candidata-te”.Foi o que fiz, não disse a ninguém,e, para minha surpresa, fui chamadapara a entrevista. Certo é quepassados uns dias, cheguei a casae a minha mãe disse-me que tinhamtelefonado do ICBAS a dizer quetinha sido pré-selecionada e quese terminasse a licenciatura atésetembro podia entrar. E fui. E foi aprimeira vez que vi o que é que erafazer ciência. Tínhamos móduloscom cientistas estrangeiros de váriasáreas, amigos da Maria de Sousa.Era um luxo termos contacto comcientistas superfamosos de todo o14 | APDC | REVISTA COMUNICAÇÕES | JUNHO 2025 JUNHO 2025 | REVISTA COMUNICAÇÕES | APDC | 15
ESPAÇOAS NOVASCOMPETÊNCIASDO REGU
APDC NEWSAs mulheres têmfeito um p
APDC NEWSFAZER PARTE DO JOGOOs ambi
APDC NEWSFicou claro o muitoque há
APDC NEWSReveja o eventoAceda à ga
CIDADANIA DIGITALINTEGRARMENTESQUE
AGENDAJul&INICIATIVASEVENTOS1 E 2 J
Loading...
Loading...