portugal digital 52 Se houve questão filosófica que as tecnologias imersivas vieram levantar foi a que nos interpela sobre o que é a realidade. Hoje sabemos que à medida que as fronteiras entre o mundo físico e o virtual se esbatem, essa resposta é cada vez mais complexa. A investigação sobre extended reality (XR), o termo catch all para tecnologias imersivas, indica que o mundo físico e o virtual estão condenados a entender- -se. É um caminho sem retorno, com possibilidades infinitas, que apaixona a comunidade científica, nomeadamente em Portugal. Autor e especialista em XR, Luís Bravo Martins, também membro da secção Metaverso da APDC, está a desenvolver, em parceria com a APDC, o Portugal XR Report 2024, um estudo que agrega informação sobre o talento, o investimento, a investigação e o negócio que esta área tecnológica está a gerar no país. As suas conclusões serão apresentadas na próxima edição da Web Summit, mas para já o coordenador deste projecto pode adiantar que “foram identificadas cerca de 250 organizações a trabalhar em tecnologias imersivas em Portugal”, ou seja, muito mais do que à partida se poderia supor. Entre estas organizações encontram-se empresas, instituições, indústria e Estado, o que indica que a adoção das XR está a ser transversal. Luís Martins não tem dúvidas de que o interesse em torno da realidade aumentada e realidade virtual vai crescer, até porque há mercados muito fortes a despontar para estas áreas. Um deles é o do Turismo: “Neste momento mais de 20 municípios apostam em rotas de realidade aumentada”, precisa. “No contexto do património, por exemplo, existe a possibilidade de as pessoas acederem a guias de realidade aumentada que nos locais orientam os turistas. Também já é possível ver, sobrepostos aos locais onde aconteceram, eventos históricos”. As possibilidades são múltiplas. “O município de Loulé, por exemplo, apresenta numa app o poeta António Aleixo – que na verdade é um actor, em realidade aumentada – a falar da sua vida e a recitar poemas pela cidade”, partilha este membro da secção
Autor e especialista em XR, Luís Bravo Martins, também membro da secção Metaverso da APDC, está a desenvolver, em parceria com a APDC, o Portugal XR Report 2024, estudo que faz o ponto de situação sobre o nível de penetração destas tecnologias no país Metaverso da APDC. Também já são vários os municípios que disponibilizam aplicações com guias virtuais a explicar quem são as pessoas que dão nomes às ruas. O fenómeno, frisa Luís Bravo Martins, é global: “Em França já é possível apontar para ruínas, vê-las reconstruírem-se e depois visitar o que foi reconstruído”. NADA SERÁ COMO ANTES A área em que a aplicação das tecnologias imersivas será, talvez, mais revolucionária é a da Educação, em particular a educação no âmbito da Saúde, estima o coordenador do Portugal XR Report 2024: “Nos treinos de cirurgia, por exemplo, deixará de ser necessário utilizar cadáveres, porque já é possível replicar o corpo humano em 3D e treinar assim, podendo aprender de forma mais descontraída, repetir procedimentos e registar o percurso dos estudantes”. O imobiliário é outra das áreas que está a acolher as XR de braços abertos: “Hoje é possível levantar em realidade virtual o projecto de uma casa e vê-lo remotamente, assim como realizar visitas 3D a espaços que ainda estão em construção. Para a apresentação de soluções de decoração estas tecnologias também são importantes”. Existe muita coisa a acontecer. Atenta, a Comissão Europeia está a lançar um projeto para a criação de advanced digital skills em virtual worlds, pois a procura por profissionais especializados nestas tecnologias vai aumentar. Em Portugal Luís Bravo Martins diz estar a assistir-se a um “influxo relativamente grande de talento”, em parte devido aos imigrantes que nos chegam do Brasil e também porque temos uma política fiscal atrativa para quem vem de fora. Em cima disso não podemos esquecer que temos o poder de atração dos países “de sal, sol e sul”, frisa, sorrindo da inspirada cacofonia. Hoje, é redutor afirmar que estes especialistas vêm do gaming, pois à medida que estas tecnologias se desenvolvem é cada vez mais necessário que competências muito diferentes convirjam para desenvolver projetos de XR, como é o caso do design, da gestão e do marketing. Mas a verdade, é que ainda não existe em Portugal uma licenciatura, por exemplo, em Realidade Virtual. A oferta de formação nesta área faz-se, por enquanto, através de diversos cursos de informática que compreendem cadeiras de tecnologias imersivas. Mas o caminho faz-se caminhando e no território nacional encontram-se em funcionamento cinco pólos de expertise nesta área: dois em Lisboa, um dos quais patrocinado pela UNESCO, dois a Norte e outro na Madeira. À porta fechada, mas de olhos postos na comunidade, 53
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