a conversa Para Pedro Arezes, estar ligado às universidades, à produção de saber e conhecimento, é uma forma, como a política, de intervir no mundo. “Tem um impacto muito grande na sociedade. Tenho uma sensação de retribuição. De forma muito palpável no empenho que coloco nas duas organizações onde tenho trabalhado mais de perto: a Universidade do Minho e o MIT Portugal” 18
Como foi a sua infância em Barcelos? Como foram esses tempos inaugurais? Tive uma infância absolutamente normal, no seio de uma família minhota. A minha mãe era doméstica, como se dizia na altura. O seu emprego a full-time era cuidar dos filhos. O que me recordo com nitidez é de ser muito acarinhado. Tínhamos algum desafogo financeiro, o que nos permitiu ter acesso a conhecimento, que alguns dos meus colegas não teriam. Ainda se lembra de pormenores desse tempo, ou isso parece que foi noutra encarnação? Lembro-me perfeitamente. Até à universidade nada me distinguia, e mesmo depois da universidade nada me distinguiu… Ao contrário do que muita gente pensa, estando eu a presidir ao MIT Portugal, nunca fui um miúdo muito ligado à tecnologia, um geek, que só olhava para as estrelas e sonhava com foguetões. Portanto, não era daquelas crianças apaixonadas por máquinas, que fazem autópsias aos brinquedos… Gostava dos brinquedos mais tecnológicos, aqueles que faziam mais barulho, que acendiam muitas luzes. Também os desconstruía, usando a minha índole mais racional e dedutiva para saber o que tinham lá dentro. Mas nada que fosse distintivo… Tinha uma inclinação para as matemáticas… Sim, com uma esperança de poder aceder à Medicina. E isto, julgo, porque a minha mãe valorizava muito o trabalho dos médicos, nomeadamente dos pediatras. Mas acabei por não seguir esse caminho. E o seu pai? O meu pai marcou muito a minha vida. Recordo-me de ele partilhar, frequentemente, que quando foi viver para Braga, uma cidade maior, perdeu o foco nos estudos. Contava que tinha chegado perto, mas que se desviou do seu caminho. Acabou por nunca ser engenheiro, que era o seu grande desejo. Foi um empresário bem sucedido, mas que não cumpriu aquele sonho. Talvez isso me tenha levado a estudar, a não me desviar, e depois optei pelas áreas tecnológicas. Acabei por seguir engenharia. “Estive tentado a tirar Arquitetura já depois de ter terminado Engenharia. Mas depois, à ultima da hora, não aconteceu” E porquê Engenharia Industrial? À epoca, chamava-se Engenharia de Produção… Na altura, falei com um grande amigo da família, que tinha entrado como assistente na universidade e ele disse- -me: “Aqui não há outro curso que te interesse a não ser Engenharia de Produção! É um misto entre Gestão e Engenharia, que te abre oportunidades na indústria, que na nossa região é muito diversificada”. Assim foi. E gostou? Adorei. Mas se não tivesse adorado, julgo que não haveria problema. Hoje tenho a convicção de que a nossa opção de curso não limita o nosso trajeto de vida. Basta ver a quantidade de engenheiros que são gestores de empresas. Tenho colegas a trabalhar em Psicologia que são médicos; outros em Medicina que vieram da Bioquímica. A panóplia é grande. Eu próprio estive tentado a tirar outra licenciatura já depois de ter terminado Engenharia. Sempre tive um lado estético, sempre gostei de desenho gráfico, e decidi ir fazer Arquitetura. Mas depois, à última da hora, quando me ia inscrever, havia sempre alguém da universidade que me levava para outros voos, que me dava novas perspetivas, e acabei por não o fazer. Mas porquê Arquitetura? É uma paixão. Recentemente decidi comprar uma casa no centro de Guimarães e acompanhei a construção. No meu papel de arquiteto frustrado, envolvi-me muito e adorei. Fiquei com a sensação de que podia ter tido um caminho na Arquitetura… Fiz uma casa muito minimalista, à minha imagem. Mas depois, com o nascimento da minha filha (fui um pai muito tardio), tive de aceitar que aquele minimalismo clean fica desvirtuado com os brinquedos dela espalhados pela casa, tudo cor-de-rosa. Foi toda uma aprendizagem (risos)! Voltando um bocadinho atrás… era daqueles adolescentes que queria mudar o mundo? Quem era o Pedro aos 17 anos, por exemplo? Por este início de conversa parece-nos que é muito irrequieto, não gosta da rotina… Tenho de a corrigir… Embora pareça uma descrição atraente, para repor a verdade tenho de dizer que sou absolutamente focado na rotina, pode até ser um dis- 19
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