a conversa “Percebi que era possível passar a minha vida a estudar, mas de forma produtiva e sustentável (...) Posso dizer que passei a minha vida toda a aprender e continuo a fazê-lo” “Sinto uma grande necessidade de evoluir, sinto esse apelo. Quando entrei para a ANACOM, nos primeiros dias, em que havia muitas decisões financeiras a tomar, senti: se isto for assim todo o tempo, em seis anos vou ficar burra” 18
Quando estava na idade de fazer escolhas, dizia que queria estudar até morrer. Porque é que isso era tão determinante para a sua felicidade? Porque me fazia confusão perceber que as pessoas se limitavam a trabalhar das nove às cinco. Via isso nos meus vizinhos, em muita gente que me rodeava. E não queria essa vida para mim. Não gostava daquela correria, do preparar o jantar todos os dias da mesma maneira e de não haver tempo para mais nada. Achava que as pessoas não aprendiam. Isso também diz muito sobre si, essa vontade de aprender constantemente. Tirou o curso de Economia, mas nunca quis trabalhar numa empresa… Porquê? Queria aprender até morrer. Era tão assertiva que isso irritava o meu pai. Aliás, ele que não levanta a voz, nunca discute, não lidava nada bem com isto. Só o vi duas vezes chateado na vida. Uma foi quando fez um bolo pela primeira vez e eu fui lá incomodá-lo (risos); e a outra quando eu insistia que só queria estudar. Dizia-lhe: “Acabo um curso e vou para outro, e depois para outro, e depois para outro. Não quero trabalhar!”. O meu pai achava mesmo que aquilo não podia continuar! Quando descobriu que poderia fazer isso na Academia, deve ter sido uma felicidade! Sim, percebi que era possível passar a minha vida a estudar, mas de forma produtiva e sustentável. Sem depender dos meus pais. O sonho cumpriu-se. Sim. Posso dizer que passei a minha vida toda a aprender. E continuo a fazê-lo. Isso tem muito a ver com a sua personalidade, a sua vontade de se superar, de ir buscar outras vivências, outras descobertas. Sim, totalmente. Repare: regressei a Portugal há três meses e no outro dia pensei: nos próximos seis anos tenho de tirar uma engenharia qualquer ou um curso de Direito. Sinto uma grande necessidade de evoluir, sinto esse apelo. Quando entrei para a ANACOM, nos primeiros dias em que havia muitas decisões financeiras para tomar, de gestão do dia-a-dia, senti: se isto for assim todo o tempo, em seis anos eu vou ficar burra! Mas o que encontrou foi um grande desafio? Neste setor, dificilmente sentirá a estagnação. Sim, existem muitos desafios. Mas no início assustou- -me muito perder tempo com coisinhas que não são assim tão interessantes… Já agora, uma curiosidade: quando o João Galamba a contactou por WhatsApp para a sondar para a ANA- COM, o que pensou? Que era uma mensagem de phishing? Lembro-me perfeitamente, era um sábado de julho. Eu estava a caminho da praia para fazer surf. E ele enviou uma mensagem a pedir para falar comigo por telefone. Não liguei muito, pensei que seria, sim, uma mensagem de phishing. Ou uma conta falsa. Entretanto, respondi à mensagem e combinámos um encontro na terça-feira seguinte. Ficou surpreendida com o convite? Não. A primeira coisa que lhe disse foi: “Não me venha falar da TAP!”. Foi logo a minha reação. Mas não fiquei surpreendida. Porque, em 2021, eu já tinha sido abordada para vir para a ANACOM como administradora, a convite do Mário Centeno. Mas, na altura, não me fez sentido. A minha avó tinha acabado de falecer e eu tinha vindo para Portugal abrir o laboratório em economia experimental no ISEG (o XLAB - Behavioural Research Lab). Estava muito entusiasmada com o projeto, não era o momento. Mas desta vez acabou por aceitar… Pedi algum tempo para pensar, para conversar com algumas pessoas que foram fundamentais neste processo, entre as quais a antiga presidente, a professora Fátima Barros, uma pessoa que conheço há muitos anos, e o próprio Mário Centeno. Porque precisava muito de perceber o porquê deste convite. E o que é que ele lhe disse? Ele acha que as pessoas que foram para fora e que têm grande transversalidade são muito úteis à causa pública. O que nós podemos trazer para estas organizações é a mente aberta, não estarmos fechados numa única visão. E eu sempre me dediquei a projetos que me apaixonam, de diferentes áreas de intervenção pública. O Álvaro Beleza costuma dizer que eu não sou uma pessoa agarrada ao poder. E é verdade. Tenho um olhar científico sobre as coisas. Olho para elas. Questiono. Questiono muito. Muitas vezes não estou satisfeita com determinadas práticas. Julgo que foi isso que eles viram em mim. O facto de ser independente também ajudou? Sou apartidária. Tenho, claro, as minhas convicções, mas vejo o mundo com o meu olhar científico. Nunca tive problemas em criticar quem quer que seja. E o Mário Centeno foi muito justo, muito correto. Porque eu escrevi vários textos no Expresso com muitas críticas 19
Sabe que o seu negócio pode ter a
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