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COMUNICAÇÕES 248 - VIRGÍNIA DIGNUM: IA RESPONSÁVEL PRECISA DE "REGRAS DE TRÂNSITO"

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a conversa “Neste

a conversa “Neste momento podemos comparar a IA com um carro que não tem travões, nem cintos de segurança e está a ser guiado por uma pessoa que não tem carta de condução (...) Temos de insistir com as empresas que desenvolvem estes sistemas que têm de pôr cintos de segurança e travões, mas não nos podemos esquecer de que, ao mesmo tempo, temos de investigar (...) É preciso criar regras de trânsito” 18

Como é que começou a interessar-se pelas tecnologias digitais? A minha mãe estudava matemática e fez um curso de computação, nos anos 70, na IBM. Achei aquilo interessantíssimo, principalmente os cartões perfurados (risos). Acabei por fazer o curso de Matemática Aplicada na Faculdade de Ciências de Lisboa e os primeiros computadores que usámos, juntamente com o Técnico (IST), no início dos anos 80, ainda funcionavam com os tais cartões perfurados. Ainda fiz programas assim. Já então estava definido na sua cabeça que queria ser programadora? Ainda não estava muito definido. A questão da matemática e da resolução de problemas de uma maneira lógica e estruturada é que me interessava. Conseguiu perceber o conceito dos cartões e dos furinhos? Acho que tinha uma ideia de que era possível descrever instruções de uma maneira tão estruturada que desse para uma máquina perceber. Fazia perguntas à sua mãe? A minha mãe não continuou na carreira de programação, foi para o ensino. Passou a ser professora de matemática. Com cinco filhos (sou a mais velha da prole) era mais fácil ser professora. Então como é que deu o salto da matemática para uma área mais digital e depois para a IA? Dei o salto para a informática através da matemática porque, naquela altura, no início dos anos 80, não havia em Portugal cursos superiores de computação ou de engenharia informática. Essa matéria começou a ser lecionada na Faculdade de Ciências, no curso de Matemática Aplicada à Computação, e no Técnico, no curso de Engenharia Informática. Como a única forma de estudar informática naquele tempo era através do curso de matemática aplicado à computação, foi o que fiz. Os primeiros anos do curso eram matemática pura. Mas logo que pude começar a escolher cadeiras, escolhi as de computação, inclusive uma cadeira de Inteligência Artificial. Já havia? Sim. O curso foi iniciado por um casal de professores, o casal Sernadas (Amílcar e Cristina), que depois esteve no Técnico, e que tinha vindo de Edimburgo, uma das primeiras zonas da Europa em que se começou a estudar a IA. Fiquei logo encantada. Pensou: é isto! Exatamente: foi assim! Acabei o curso em 87. Mais ou menos ao mesmo tempo casei-me com um holandês e comecei um mestrado em IA na Faculdade Livre de Amesterdão. Também trabalha nesta área? Sim. Conheci-o numa conferência de IA e hoje é colega de IA onde estou agora, na Universidade de na Universidade de Umea, na Suécia. Portanto, a progressão familiar e a IA têm acontecido em paralelo durante a vida toda. Tudo junto! (risos) Em criança já revelava esta vocação para as matemáticas? Sempre tive uma estrutura de pensamento muito lógica, muito estruturada. Mas em criança também brincava com bonecas. E ainda hoje faço tricô e croché (risos). Então não era “maria rapaz”... Também era um pouco. Fui escuteira desde os nove anos e cheguei à comissão nacional das guias da Associação de Guias de Portugal. Nessa fase, fazia muita atividade ao ar livre e construção de acampamentos. Uma das coisas que me interessava imenso era a logística dos acampamentos nacionais: calcular como é que se dá de comer a 500 meninas. Isso é matemática! Sem dúvida! Sempre gostei muito dessa parte da estrutura da organização. Saí das Guias de Portugal só quando fui para a Holanda (agora Países Baixos). Foi fácil adaptar-se a outro país? Houve uma experiência engraçada: aqui em Lisboa, no meu curso, 70% dos meus colegas eram mulheres porque, de facto, nos anos 70 e 80, a computação era uma ocupação feminina. A partir de certa altura é que começou a ter uma importância económica maior e aí passou de profissão feminina a profissão tipicamente masculina. Mas quando cheguei ao mestrado da Universidade Livre de Amesterdão era a única mulher da minha turma. E isso foi um choque. Não estava à espera. Mas eles facilitaram-me imenso. Como ainda não sabia falar holandês, deixaram que fizesse os exames em inglês. A IA que aprendeu na época não tem nada a ver com o que existe hoje… Não é assim tão diferente. Agora falamos imenso na IA baseada em dados, mas ao fim e ao cabo a IA são 19

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