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COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

negocios 38 Ricardo

negocios 38 Ricardo Tomé acredita que “a web3 criará novas formas de participação, mas para já, não vai pôr em causa o papel das empresas de media” O acesso à tecnologia de última geração é, pois, uma importante barreira ao crescimento dos negócios baseados nestes novos canais. Mas não só. Outro tema que está a ser discutido atualmente pela indústria é o da interoperabilidade: “Se eu tiver no Horizon, do Facebook, um conjunto de propriedades e quiser passá- -las para o Spacial ou o Descentred Land, verifico que a interoperabilidade ainda não é um standard. O mesmo acontece nas redes sociais: ainda não é possível passar conteúdos de umas redes para outras, a não ser que pertençam à mesma empresa, como é o caso do Facebook e do Instagram”, alerta Ricardo Tomé. Certos de que a explosão da web3 não vai acontecer enquanto estas dificuldades não forem ultrapassadas, na Media Capital estão, como na concorrência e um pouco por todo o lado, a fazer experiências pontuais. Também neste grupo a comemoração de um aniversário foi escolhida como pretexto para testar a adesão do público a este admirável mundo novo. Durante a gala dos 30 anos da TVI a estação marcou presença no metaverso, franqueando ao seu público o acesso a três salas onde os utilizadores podiam assistir e comprar vídeos com momentos da história da estação. Mas mais do que receber pessoas no metaverso, a experiência que entusiasmou o grupo foi a da conceção e venda dos NFT: “Em novembro, colocámos no nosso site a pergunta sobre o que as pessoas mais se lembravam à volta dos nossos 30 anos de existência. E foram alguns desses momentos referidos nos comentários que transformámos em NFT. A cada vídeo associámos uma experiência e um número limite de possíveis compradores. O mais exclusivo que lançámos esgotou nas primeiras 24horas. Custava 500 euros e, além do título de propriedade daquele vídeo, dava acesso à festa de verão da TVI, com direito a ser penteado e maquilhado”, revela Ricardo Tomé. Com o objetivo de não afastar público, durante a gala, o acesso às salas virtuais da TVI não se fez exclusivamente via metaverso. Para os menos equipados tecnologicamente foi aberto um canal, através do site TVI30.pt, onde também era possível assistir aos vídeos e transacionar NFT. Prosseguindo na lógica de não excluir interessados, as transações puderam fazer-se em moeda corrente e não em criptomoedas, como mandam as regras dos mercados virtuais. Tudo se fez para alcançar a máxima adesão. O resultado foi, diz Ricardo, muito interessante. O head of digital da Media Capital assume que é nos NFT, nomeadamente nos NFT colecionáveis, que o grupo está a apostar mais: “Falámos com os nossos colegas da CNN Internacional, vimos algumas experiências no Brasil e percebemos que, por enquanto, é aqui que está a haver forte adesão do público. O metaverso até pode ter maior notoriedade, mas no final do dia as pessoas conseguem perceber onde está o valor dos colecionáveis, ao passo que ao metaverso não conseguem atribuir tanto valor”.

Já são famosos os NFT colecionáveis da NBA ou do futebol, em que o utilizador investe, presumindo que, com o tempo, vão valorizar. Acresce que a especulação e as apostas que se geram em torno dos colecionáveis estão a apimentar este tipo de transações. Em alternativa, a sedução dos NFT também pode passar pelo acesso às tais experiências, como a da participação na festa da TVI. Na estação de Queluz multiplicam-se os produtos do género: “Este ano, em que estamos a celebrar os 20 anos dos Morangos com Açúcar, lançámos colecionáveis que dão acesso a concertos dos Desert, com direito a conhecer pessoalmente a banda. Mas à volta das telenovelas também podemos proporcionar experiências a quem nos comprar NFT: poder assistir a uma gravação, fazer figuração num episódio, ou poder ter objetos virtuais ou físicos do cenário”, exemplifica Ricardo Tomé. Havendo, em última análise, um interesse comercial na exploração destes caminhos, para já, o que mais interessa à Media Capital é, sobretudo, testar: “De momento, de forma bastante humilde, queremos aprender, perceber o feedback dos utilizadores, ver o que valorizam e dar pequenos passos antes de decidir para onde vamos fazer evoluir o projeto”, assume o head of digital do grupo. E daqui a cinco anos? À velocidade a que a tecnologia segue, será que cinco anos vão chegar para estabelecer a web3 como o novo paradigma da internet? João Paulo Luz tem dúvidas: “Se dependesse estritamente da tecnologia, diria que sim, mas olhando para o passado percebemos que são os modelos de negócio que travam estas evoluções, porque as empresas não sabem como se ganha dinheiro nesses novos modelos. Recordo-me que em 2003/2004, quando a Google já era dominante, todos nós dizíamos que daí a dez anos a pesquisa ia ser por voz e não a partir de uma lista de sites. Passaram vinte anos e o Google continua a ser uma lista de sites. Porquê? Porque é aí que a Google faz dinheiro”. Até que os acionistas das grandes empresas de media percebam como se faz negócio a partir destas novas tecnologias, o diretor comercial digital da Impresa acredita que se avançará com cautelas e caldos de galinha. Mais: está convicto de que o mundo novo não vai Até que os acionistas percebam como se faz negócio com estas novas tecnologias, os avanços serão tímidos matar o velho, tal como o Spotify não matou as rádios e o on demand não acabou com o linear. Ricardo Tomé tem uma perspetiva idêntica: “A web3 criará novas formas de participação, como todas as outras tecnologias têm feito, mas para já não vai pôr em causa o papel das empresas de media. A televisão tenderá a ser o que é hoje: um meio de persistência e resiliência, qualidades que acho que são valorizadas nas televisões. Mas claro que terá de continuar a ser inovadora, embora sem ser disruptiva”. Esta opinião fundamenta-se num indicador que tem como referência: “Há uma métrica, que é tida como certa, e que indica que na web o conteúdo disponível é gerado por 1% dos utilizadores, porque dos restantes, 9% recriam e 90% ficam a assistir”. A conclusão óbvia que se retira é que “ainda que possamos discutir a massificação da criação e da participação, a experiência mostra que as pessoas gostam, sobretudo, de assistir”. Relativamente a um futuro menos próximo, as dúvidas são muitas. Qual será o papel que as marcas de media terão no ecossistema? Como é que o metaverso vai encaixar no modelo de negócio? Vai acontecer mesmo, ou nem sequer vai descolar, como aconteceu com o Second Life? A tecnologia vai permitir outras formas de relacionamento e monetização? Quais em concreto? Que impacto é que isso vai ter nas contas das grandes empresas de media? Uma coisa é certa: a descentralização anunciada vai aumentar exponencialmente a concorrência entre players. E, nesse contexto, quem quiser manter-se como líder, terá de estar preparado para lutar contra os “Golias” do setor, mas também contra a infinidade de “Davids” que vão, inevitavelmente, emergir, minando as fundações do anterior statuo quo. Nesse futuro, quem não estiver preparado para a guerra de audiências, morre. Mas não foi sempre assim?• 39

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