Views
11 months ago

COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

negocios 36 Estaremos a

negocios 36 Estaremos a falar de um amanhã muito distante quando discutimos a normalização da web3? Essa é a pergunta de um milhão de dólares que os principais players dos media se estão a colocar. Porque hoje já não se especula sobre se esta revolução vai, ou não, acontecer. As empresas do setor sabem que estão a lidar com uma inevitabilidade, por isso só se perguntam quando e… como. Baseada na tecnologia blockchain, a web3 promete descentralização, o sonho acalentado pelos pioneiros da internet e que se desvaneceu à medida que as grandes plataformas tomaram o universo digital. De facto, na web de última geração é possível aos utilizadores desfrutar da rede sem a intermediação das grandes corporações e isso traz consequências para a relação entre consumidores e produtores de conteúdos. Neste regresso às origens, artistas e criadores poderão vender as suas produções através de sistemas cujo mecanismo é semelhante ao crowdfunding, mas cuja credibilidade é assegurada pelo sistema blockchain. Esta nova forma de comercializar conteúdos de entretenimento aproximará os criadores das suas audiências, possibilitando uma interação nunca antes vista. Por sua vez, os consumidores já não terão de desbaratar os seus dados pessoais para assistir a vídeos ou participar em jogos, porque supostamente num sistema descentralizado essa questão já não se coloca. Tudo indica que esta democratização abrirá o mercado a uma infinidade de produções destinadas a passar em milhares de canais web3, onde pontuarão tecnologias como internet of things, machine learning e o metaverso será estrela. Esta revolução anunciada encerra muita informação, quer do ponto de vista tecnológico, quer do ponto de vista da gestão, para os principais players do mercado processarem. Os fóruns de discussão têm-se multiplicado, mas as conclusões que chegam a público não saem do domínio especulativo. Molhar o pé João Paulo Luz, diretor comercial digital do Grupo Impresa, admite que, em torno da web3, existe no ar um misto de expetativa e desconfiança. Ele próprio balança entre o entusiasmo pelas perspetivas que a nova internet abre ao setor dos media e a apreensão pelas dificuldades que estas mudanças vão levantar ao negócio: A relação entre consumidores e produtores de conteúdos nunca sofreu alterações de fundo desde o tempo do cinema mudo “Quando penso na web3”, discorre, “vejo o mundo descentralizado que esse sistema oferece como uma oportunidade, pois tudo o que, à partida, tem a ver com o mundo dos NFT, baseado na tecnologia blockchain, assegura a questão da veracidade da propriedade, o que é ótimo para quem produz conteúdos. Acredito que as questões relativas ao copyright poderão ficar resolvidas com esta tecnologia. Hoje ainda é demasiado cara, portanto não é solução, mas não é difícil antecipar que quando for adotada em grande escala resolverá as questões da pirataria”. O que o preocupa é, entre outras coisas, o impacto da web3 na distribuição: “Se nós vivemos de vender conteúdos, a questão está em saber como vamos, nesse modelo, controlar essa parte”. Ao mesmo tempo confessa que, por enquanto, “é difícil antecipar” como vão passar a ser consumidos a informação e o entretenimento: “Até hoje, a grande alteração que houve foi do consumo linear para o consumo multimédia – embora o consumo linear nunca tenha sido excluído. Um bom exemplo foi o que aconteceu com a música: quando passámos a ter o Spotify, não deixámos de ouvir as estações de rádio”. O grande desafio, antecipa o diretor comercial digital do Grupo Impresa, será operar no mercado quando a relação passiva entre consumidores e produtores de conteúdos se quebrar, uma relação que, no essencial, se manteve inalterada desde o tempo do cinema mudo. “Quando for possível ao público deixar de estar simplesmente a olhar para o ecrã e fazer parte da ação, como será trabalhar neste meio?”, interroga- -se. Esse ainda é um buraco negro ou, se quisermos, a toca do coelho por onde os produtores de conteúdos terão de escorregar. Enquanto tal não acontece, só existe uma certeza: a de que a possibilidade de saltar para dentro de um ecrã e fazer parte da ação não vai deixar ninguém indiferente: “Vamos dizer que ninguém vai querer fazer essa experiência?” – a pergunta de João Paulo Luz é, evidentemente, retórica. Tal como o vento, a tecnologia não se consegue parar com as mãos, daí que o Grupo Impresa tenha decidido testar a web3 e o metaverso, aproveitando a comemoração dos 50 anos do jornal Expresso: “Em Portugal, não temos dimensão para ser os drivers destas tendências, mas preocupamo-nos em não ficar para trás. Não temos dúvidas de que devemos estar muito

atentos a este território e marcar presença o quanto antes. É por isso que já entrámos nos NFT”, assume o diretor comercial digital do Grupo Impresa. No dia em que se assinalou o 50º aniversário do Expresso, a 6 de janeiro, a Impresa lançou 50 NFT que esgotaram em poucas horas. Esses NFT concediam aos compradores a propriedade virtual da primeira capa do Expresso, além de informação adicional exclusiva. A iniciativa foi considerada um sucesso. O programa de comemorações do aniversário do Expresso inclui uma exposição itinerante, que anda a percorrer as principais praças das capitais de distrito do país. A esta aproximação, bem física, ao seu público leitor, o jornal decidiu acrescentar uma experiência no metaverso. Sem revelar o número de participantes, João Paulo Luz admitiu que não foram muitas as pessoas que visitaram a sala virtual que replica a exposição do periódico: “Evidentemente que hoje o número de pessoas que possuem óculos que lhes permitem ter uma experiência rica no metaverso ainda é baixo em Portugal. Noutros mercados, a penetração já é muito elevada, mas não tenho dúvidas de que este hardware vai explodir com as novas gerações”. Esta certeza basta-lhe para saber qual a estratégia a seguir: “Não temos que sentir o complexo de não perceber tudo, de não dominar tudo. A nossa atitude é esta: ‘Se faz sentido e conseguimos fazer, faça-se’. Para já, só estamos a promover ações pontuais, mas de uma coisa não temos dúvidas: temos que ir molhando o pé”. Pequenos PASSOS Na Media Capital, o espírito é semelhante. Ricardo Tomé, head of digital do grupo, confessa que tudo isto lhe faz lembrar o ambiente que se vivia em meados dos anos 90, quando se começou a discutir o ecommerce: “É a mesma sensação. Sabíamos que ia acontecer, mas ninguém era capaz de dizer exatamente como seria. “O número de pessoas que possuem óculos que lhes permitem ter uma experiência rica no metaverso ainda é baixo em Portugal, mas não tenho dúvidas de que este hardware vai explodir com as novas gerações”, diz João Paulo Luz Também não conseguíamos antecipar se essa aposta valeria a pena em 2005 ou só em 2015”. Diz que tudo o que a web3 promete trazer, lhe parece simultaneamente fantástico e demasiado incerto: “A tecnologia é incrível, quer do lado da blockchain, quer dos mundos virtuais, como já havia no Second Life, mas agora muito mais robusta”. A questão está em saber quanto tempo será necessário até a adesão do público se tornar massiva: “Se eu estiver a falar num fórum, não preciso de muita tecnologia e em termos culturais já existe um amadurecimento para uma conversação de tipo chat, mas o mesmo já não se pode dizer em relação aos mundos virtuais. Quando abrimos um computador e nos ligamos ao mundo virtual, precisamos de recursos, caso contrário a experiência não é muito boa. Através do telemóvel acontece o mesmo. Se tentar aceder ao mundo virtual através de 4G, não há fluidez. Se for para 5G precisarei de um telemóvel com 5G, de rede com 5G e wifi com boa ligação”. 37

REVISTA COMUNICAÇÕES

UPDATE

© APDC. Todos os direitos reservados. Contactos - Tel: 213 129 670 | Email: geral@apdc.pt