Views
11 months ago

COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

em

em destaque 28 A inteligência artificial já se desenvolve há décadas, mas até agora a possibilidade de as máquinas atingirem patamares iguais ou superiores à capacidade de raciocínio humano não desestabilizava o cidadão comum. Quando Deep Blue, o supercomputador da IBM, fez história, em 1997, ao derrotar pela primeira vez um ser humano tão credenciado como o campeão mundial de xadrez Kasparov num torneio oficial, o mundo pasmou, mas não perdeu o sono. Sabendo que os problemas de xadrez se resolvem com base no raciocínio matemático, a proeza do Deep Blue foi encarada pela opinião pública como algo notável, que longe de pôr em causa as capacidades humanas, antes as exaltava, colocando em evidência os níveis de excelência que a investigação na área da IA tinha atingido. De então para cá, a IA foi entrando de forma subtil no nosso quotidiano, através de funcionalidades tão anódinas como os teclados inteligentes do telemóvel ou os serviços públicos de atendimento telefónico. As assistentes virtuais e os robôs deram-lhe um protagonismo diferente, que já invoca cenários futuristas, mas cujo desempenho foi acolhido, em geral, com curiosidade, admiração e simpatia. O grande sobressalto só aconteceu em novembro passado, com a apresentação ao mundo de um modelo de IA com capacidade para desenvolver trabalhos criativos. Algo até agora tido como exclusivo da espécie humana. Uma evolução que está a ser recebida como algo fraturante. Ultrapassada esta linha vermelha, ficou inevitavelmente no ar a dúvida: até onde irá o limite a partir do qual não será mais possível à criatura competir com o criador? E como ainda não é possível dar uma resposta cabal a essa questão, a sombra de Frankenstein, o ser que se tornou incontrolável e acabou a ameaçar o seu inventor, paira em certos debates sobre IA. No epicentro deste terramoto está o ChatGPT, um chatbot baseado em IA capaz de gerar um texto original sobre qualquer assunto. Lançado pela OpenAI, a empresa fundada, entre outros, por Sam Altman e Elon Musk (que entretanto saiu), o projeto contou com o financiamento de um peso pesado, a Microsoft (mil milhões em 2019 e um reforço de dez mil milhões anunciado agora). Do ponto de vista tecnológico, o Até onde irá o limite a partir do qual não será mais possível à criatura competir com o criador? Esta é a questão ChatGPT não é mais avançado do que outras aplicações que já circulam no mercado, nomeadamente as que geram ilustrações e vídeos, com resultados impressionantes. A diferença é que o lançamento do chatbot da OpenAI foi objeto de uma campanha de marketing que se revelou muito eficaz. De acesso gratuito, em poucos dias a procura do serviço explodiu. Passadas duas semanas já tinham acedido a este chatbot cerca de 100 milhões de pessoas. Porquê esta adesão sem precedentes? A campanha de marketing deu-lhe muita visibilidade, mas não explica tudo. É que, além de acessível a todos, o potencial deste tipo de serviço é gigante. A corrida ao chatbot não passou despercebida aos media. Desde logo começaram a sair inúmeros artigos sobre os prós e os contras desta tecnologia aos mais variados níveis, do mercado de trabalho ao ensino, passando pela investigação. Algumas especulações emitidas em tom verdadeiramente alarmista, contribuíram ainda mais para despertar a curiosidade e avolumar uma bola de neve que continua imparável, somando cada vez mais utilizadores em todo o mundo. Os receios que foram postos a circular são muitos e já levaram algumas instituições, no campo do ensino, a tomar medidas drásticas, proibindo os seus alunos de usar o ChatGPT, ameaçando-os de expulsão. O Instituto de Estudos Políticos de Paris, por exemplo, não hesitou em fazê--lo, mas houve mais casos de alarmismo, nomeadamente em diversas universidades americanas. É que o chatbot pode, inclusive, produzir papers científicos. Na verdade pode fazer tudo: ensaios, programas turísticos, roteiros de filmes, poesia, letras de canções, receitas culinárias, relatórios, textos humorísticos e por aí fora. Os conteúdos baseiam-se na informação que lhe foi carregada (conteúdos da internet até 2021 e parte de 2022). São milhões e milhões de dados que nenhum ser humano conseguiria rastrear, muito menos em segundos. Houve já quem se desse ao trabalho de fazer os cálculos e, contas feitas, para consultarmos todos os textos que o ChatGPT registou, necessitaríamos de ler 24 horas por dia, durante 5 mil anos. Para aferir a qualidade da informação usada por este chatbot houve universidades que o sujeitaram a exame. Nenhuma o conseguiu chumbar. Em janeiro,

até ao exame de licença médica obrigatório para exercer Medicina nos EUA o bot foi submetido… com sucesso. PROVA oral Inês Lynce, professora e investigadora do INESC-ID e catedrática do Instituto Superior Técnico, assume que, “no ano passado, quando o ChatGPT apareceu, provocou um grande sururu no instituto”. Especializada em Raciocínio Automático, a área de investigação que desenvolve para a IA a réplica do raciocínio humano naquilo que tem de lógico e automático, quis logo testar o chatbot: “Fiz-lhe uma oral (risos)”. “A primeira pergunta que lhe coloquei, foi: ‘Quem foi a pessoa que introduziu o conceito de ‘Raciocínio Automático’ na área de IA?’. E ele indicou-me um nome que não tinha nada a ver. Depois perguntei-lhe por uma ferramenta em concreto (existe uma ferramenta diferente, mas com o mesmo nome, noutro conceito e ele foi buscar essa). Corrigi-o. Ele lá conseguiu chegar à resposta certa, mas quando puxei mais por esse filão, não correspondeu. Tratava-se de chegar a um aspeto científico muito específico, logo não estranhei. Afinal, ele não foi feito para ser especialista em tudo o que são artigos científicos. Notei, por exemplo, que tinha muita dificuldade em chegar a referências bibliográficas, algo que é fundamental em trabalhos científicos. E também que era fácil manipulá-lo: conseguia tirar dele tudo o que quisesse”. Condescendente, lá o passou, “mas à tangente”, sublinha, sorrindo. A experiência serviu para comprovar o que já tinha como adquirido: “Não estava à espera que ele soubesse mais do que eu – por alguma razão existem os especialistas – e isso ficou demonstrado”. Em contrapartida, admite que, em certas funcionalidades, o bot pode ser- -lhe muito útil: “Pedi-lhe para fazer uma carta de recomendação em inglês. Dei-lhe os elementos todos e o texto que me apresentou era de um inglês claramente superior ao meu, o que é muito positivo, pois de agora em diante já sei que tenho vantagem em recorrer ao ChatGPT para esse fim”. Sobre a celeuma que se levantou em torno do im- Inês Lynce, professora e investigadora do INESC-ID, quis logo submeter o ChatGPT a exame. Passou-o, mas à tangente pacto do ChatGPT no ensino, Inês Lynce revela descontração: “Proibir o acesso aos alunos não é bom princípio. O importante é educá-los para fazer o uso certo destas ferramentas e adaptar os métodos de avaliação. No passado, às vezes pedia relatórios de projetos de programação. Este ano, o mais provável é que venha a pedir um vídeo (sorri, com uma ponta de malícia). Um vídeo”, frisa, “sei que são os alunos a fazer”. Mais provas orais e exames presenciais, passarão, na opinião da professora, a ser as tendências. Apesar de a eventual utilização do ChatGPT não constituir, na sua área, um verdadeiro problema, visto os exames testarem a capacidade de raciocínio, não a memorização, “existem áreas do conhecimento em que não é assim”, admite. 29

REVISTA COMUNICAÇÕES

UPDATE

© APDC. Todos os direitos reservados. Contactos - Tel: 213 129 670 | Email: geral@apdc.pt