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11 months ago

COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

a conversa 22 cês, em

a conversa 22 cês, em conjunto connosco, pensem num programa avançado, rápido – muito rápido – para pôr estas pessoas a aprenderem coisas novas, a trabalharem umas com as outras”. Isto era algo que não acontecia, porque cada organismo trabalhava no seu silo. E assim foi. Desenvolvemos o Lab Justiça, programa que arrancou em setembro, com 100 líderes formados pela Nova e pelo ISEG; e foi a primeira vez que se juntaram duas instituições académicas para um fim comum. Um programa absolutamente adaptado para responder às vossas necessidades? Sim. Prepararam um programa, todo o percurso letivo à volta daquilo que eram as necessidades e depois fizemos um trabalho de evangelização, por assim dizer, dos nossos líderes que estiveram neste curso ao longo destes meses. Como assim? Quando eles têm uma dúvida num determinado tema, falam uns com outros e aproveitam as boas práticas. Por exemplo, se uma entidade está a fazer contratação em low code, outra partilha que já tem um caderno de encargos nessa área; se um organismo tem uma dúvida jurídica sobre como se aplica a proteção de dados, fala com os outros. Este programa de competências teve essa capacidade de pôr as pessoas a conversarem umas com as outras e ganharem competências. Quando fizermos a contratação com as grandes consultoras, lá está, já temos pessoas que falam a mesma língua. Nos organismos públicos temos de ter excelentes gestores de projeto, transversais, com equipas que façam acompanhamento, que consigam perceber bem os objetivos, que saibam envolver as pessoas nos processos e que, sobretudo, saiam das suas torres de marfim, que ouçam os cidadãos. Mas para isso é preciso ir para o terreno e perceber as necessidades reais do cidadãos… Foi o que fizemos: o chamado desenho de serviços. Ir falar com as pessoas e compreender as suas dificuldades, fazer o mapa de percurso e perceber a experiência delas. Perceber, com elas, o que lhes acontece quando compram uma casa ou quais os passos quando criam uma empresa. Assim, fomos a Lisboa, à Guarda, a Resende… entrevistámos os utilizadores e fizemos um trabalho de diagnóstico de como é que funciona o sistema. Para quando desenhassem um novo, já saberem os entraves que as pessoas sentem… Exato. Há obstáculos que temos de conhecer antes de fazermos as mudanças. Esse trabalho de diagnóstico foi muito relevante. Além de tudo isto, criámos a lógica de trabalhar com pequenas startups para resolver problemas. É a isso que responde o Gov-tech, que acabámos de lançar. É um projeto muito importante… Importantíssimo, porque é a ligação que podemos ter com as startups, com a academia, com os investigadores e que nos dá a capacidade de colocar rapidamente no terreno iniciativas que melhoram a vida das pessoas. É um bocadinho um simplex tech, posso dizer assim. Ou seja, como é que conseguimos ir buscar os “geeks” da universidade, com vontade de fazer coisas arrojadas, mas que nunca ouviram falar do setor público, ou que acham que é a coisa mais aborrecida à face da Terra? Sim, querem distância, até… Totalmente. Querem ir O Lab Justiça juntou, para a banca, porque a banca é que faz coisas giras. Ou querem ir para as pela primeira vez, duas instituições académicas software houses lá fora, porque fazem projetos espetaculares, e o setor público para um fim comum: dar só traz problemas, só produz burocracia. Um exem- competências à Justiça plo? Na área dos registos, numa das visitas que fizemos, percebi que existia um conjunto de pessoas, que se chamavam “inventores de nomes”, que criavam nomes para firmas pré-aprovadas, para empresas na horas. Percebemos que havia seis pessoas que a única coisa que faziam, de manhã à noite, era inventar nomes. Isto não faz sentido! Hoje, este tipo de atividades tem de ser feita com uso de machine learning. Então, chamámos uma equipa de recém-licenciados do Técnico que, a trabalhar junto com os funcionários, criou em duas

semanas um algoritmo. Rapidamente percebemos que esta ferramenta cria melhores nomes e até sugere nomes baseados na área de atividade da pessoa. Este é o tipo de iniciativas que temos de espalhar por todo o setor da Justiça. Foi por isso que trouxe para trabalhar consigo gente que nada tem a ver com Justiça formal, não é? Gente que vem das engenharias, de data science… Um dos objetivos foi precisamente esse. As equipas devem ser constituídas por pessoas que venham de áreas completamente diferentes. Só faremos transformação e modernização se não concordarmos uns com os outros. É do confronto de ideias que vem a inovação? Para conseguirmos verdadeira modernização, temos de ter pessoas da área tecnológica, que percebam de sistemas, de infraestruturas, de cloud, de low code. E temos de ter, obviamente, pessoas na área jurídica, pessoas de desenho de serviços, que entendam o que são as preocupações que os cidadãos têm hoje em dia. Para conseguirmos o chamado “all in once”, temos de ter gente das ciências sociais e humanas, que compreendam as preocupações dos cidadãos e que não tenham problemas de ir para a rua entrevistá-los. Se queremos construir uma estratégia como o GovTech, temos de ter pessoas que queiram mudar o mundo. Pessoas com um brilho nos olhos? É isso, com um brilho nos olhos. Essas, misturadas com pessoas que tenham um conhecimento grande de Administração Pública e que tenham histórico, que saibam o que se fez bem e o que se fez mal. A aprendizagem ajuda muito. “Nos organismos públicos temos de ter excelentes gestores de projeto, que saibam envolver as pessoas nos processos e, sobretudo, que saiam das suas torres de marfim e oiçam os cidadãos” E a equipa está a funcionar bem? Há entrosamento entre estas múltiplas visões? Eu diria que sim. Isso é, aliás, a fórmula de sucesso. Temos de conseguir misturar estes perfis para que isto funcione. Claro que tenho plena consciência que é um desafio muito grande. E não é isento de erros. Aliás, nem deve ser isento de erros. Temos de errar – vamos errar e estamos a errar todos os dias – para poder aprender com os erros. Mas temos de errar nos projetos pequenos, não nos grandes. Por isso é que o GovTech é tão importante, porque nos permite experimentar. Testar. 23

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