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11 months ago

COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

a conversa Ou seja, as

a conversa Ou seja, as ferramentas estão lá, mas as pessoas não as usam… Eu tenho visitado conservatórias e tribunais por este país fora e as pessoas dizem-nos: “Eu não sabia que isto existia, que isto se podia fazer online”. Há um problema de comunicação, agravado por aquilo que se ouve todos os dias nas notícias: os atrasos e os mega processos, a prolongarem-se durante décadas, as más instalações, a falta de equipamentos informáticos… Sim, os mega processos são cada vez mais complexos, muito mediáticos, e levam à perceção de que a justiça é lenta, de que a justiça não avança. É algo que nós, enquanto servidores públicos, temos de conseguir desmontar. Temos de explicar as estatísticas. Estamos, ao contrário do que as pessoas dizem, com uma capacidade de resposta cada vez mais eficiente. Ainda não chegámos totalmente onde queremos, mas estamos a caminho. Mais do que medo do escrutínio, sinto a obrigação de ter impacto. Como servidor público, não se trata apenas de executar o PRR. Sinto que estamos aqui para garantir que este investimento vai realmente mudar o país e que vamos conseguir que as pessoas acedam melhor à Justiça e possam utilizar os serviços digitais. É preciso tecnologia, mas sobretudo competências para as usar. Daí o triângulo infraestruturas, transformação digital e pessoas, que vocês se fartam de destacar. Exatamente. E, depois, medir o impacto disto. Perceber o que isto gerou. Tem uma janela de oportunidade de dois anos e 267 milhões de euros para a Justiça, com o foco na transição digital. É obra. Mais precisamente 266,9 milhões, mais 55 milhões para a Justiça económica, e outros 55 para a área das florestas, para o eBUPi. Um investimento enorme! Mas nas infraestruturas da Justiça ainda há muito a fazer... Na infraestrutura patrimonial, sim. Os recursos que temos em Portugal são limitados e, portanto, temos de escolher muito bem, estabelecer prioridades. Estamos a fazer esse trabalho: perceber onde temos de agir em determinadas áreas do edificado, seja nos tribunais, nos registos ou na área prisional. Eu estive no gabinete da ministra da Justiça anterior e, depois, da secretária de Estado e tínhamos, de facto, uma ambição muito grande de inovar, mas recursos financeiros muito limitados. Neste momento, Portugal tem o grande desafio de concretizar o PRR. É a oportunidade de fazer, de facto, a mudança. Sente que estar aqui, neste timing, é um privilégio? Sim, mas a responsabilidade também é muito maior. As consultoras que o Estado contrata para acelerar as transformações não falam a mesma língua que a Administração Pública Será a grande alavanca da transformação da Justiça? Sim, é a grande oportunidade. O valor investido nos últimos 12 meses é superior ao total do investimento dos últimos 10 anos. Isto dá a ideia do peso e da responsabilidade, mas também de como esta locomotiva tem de andar a alta velocidade. Isso implica uma agenda de mudança bastante ambiciosa. Temos de ter tudo muito bem estruturado. Não podemos ter este investimento, feito num espaço de tempo tão curto, sem saber exatamente o que vamos fazer, qual o propósito, de que forma vamos usar o dinheiro, que capacitação precisamos de dar às pessoas, como podemos medir os resultados e acompanhar como as mudanças estão a ser feitas. Mais: tudo isto tem de ser transparente para as pessoas – e esta é uma componente muito importante que temos de trabalhar. 20 E o escrutínio vai ser muito grande… Os olhos estão postos em si. Conhecendo as entropias do setor e olhando para o percurso que ficou para trás, acha que, em dois anos,

é possível concretizar tanta coisa, ter essa ambição toda? Tenho a certeza de que é possível! Temos uma Administração Pública muito determinada e orientada. Acha mesmo que as pessoas têm essa vontade de mudança? Sim, e cada vez mais! Quando aqui cheguei também me fiz esta pergunta: “Será que é possível executar todo o PRR?”. A verdade é que já tínhamos feito isso no eBUPI. Eram 153 municípios, 900 técnicos, milhares de proprietários e 8 milhões de matrizes. Para isso, foi preciso criar uma estrutura. A prioridade foi pensarmos num plano. O primeiro passo é este: definirmos de que forma podemos trabalhar. No caso da Justiça, quando entrámos aqui, a primeira preocupação foram as pessoas. Estou há 21 anos no setor público e um dos principais problemas da Administração Pública é o facto de a velocidade com que queremos concretizar medidas políticas não corresponder à forma como as pessoas são capazes de as cumprir. Consequência? Criam-se as medidas ao nível dos gabinetes. Mas as pessoas não sentem as medidas como delas. Não se apropriando, as mudanças em curso morrem quando muda o Governo ou, às vezes, mesmo antes de mudar o Governo. “O risco é a coisa de que mais gosto, apesar do stress e da ansiedade” E vocês perceberam que, assim, não conseguirão concretizar as medidas do PRR… Têm de ser os organismos a fazer a mudança. As consultoras que o Estado contrata para acelerar as transformações não falam a mesma língua que a Administração Pública. As consultoras falam de KPI, de PNL, de resultados… Do outro lado, está a Administração Pública a dizer que é preciso alterar o regime jurídico, mudar a lei x, o decreto y, a alertar que o sistema tecnológico não é compatível... Resultado: estamos a falar línguas diferentes. Parece uma conversa de surdos… Precisamente. Por isso, a primeira coisa que fiz quando cheguei foi falar com várias instituições académicas e juntei a Nova SBE e o ISEG num propósito comum. Sentei-me com os dois deans e disse-lhes: “Temos cerca de 100 líderes na Justiça, entre 18 entidades (gestores dos conselhos diretivos ou gestores de projeto) e temos que dar competências a essas pessoas. Preciso que vo- 21

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