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11 months ago

COMUNICAÇÕES 245 - O Ímpeto Reformista de Pedro Tavares

Fomos ver o que está a acontecer na Justiça, num À CONVERSA com o secretario de Estado da Justiça. À frente de uma das áreas mais difíceis há um ano, Pedro Tavares diz que o dinheiro do PRR dá ao país uma oportunidade única. E são muitas as mudanças em curso, através do digital e da tecnologia, com os desafios a atropelarem-se todos os dias. E está preparado para a tarefa hercúlea. O novo ChatGPT está EM DESTAQUE, já que veio provocar um terramoto na IA, com a análise de quem está dentro do tema. Há um NEGÓCIO que promete revolucionar tudo nos media: falamos da web3. No MANAGEMENT, fica claro que a procura de talento vai aumentar e que os profissionais têm menos vontade de mudar, apesar de estarem mais insatisfeitos do que nunca. Fomos ainda fazer 5 PERGUNTAS a Nuno Silva, o novo head of Hybrid and Multi-cloud da Devoteam. E convidámos Bruno Santos, executive director da Capgemini Engineering, para o ITECH.

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a conversa 18 O desafio para ser secretário de Estado da Justiça foi o maior da sua vida profissional até ao momento? Sim, é o maior desafio que tive na vida. Posso dizer isso com clareza. Nos inquéritos, quando perguntamos “qual é o aspeto mais deficiente na nossa democracia”, as pessoas apontam o sistema judicial. Isto não lhe pesa? Ou é motivação adicional? Foi um convite que recebi com o maior gosto, mas também, tenho de confessar, com o peso da responsabilidade – um enorme peso da responsabilidade. Ficou surpreendido? Sim, foi uma surpresa. Confesso que não esperava, sobretudo nesta idade. Mas o meu amor pelo setor público é algo que expresso todos os dias. Sinto-me um servidor público, mesmo que já tenha estado, em vários momentos, no privado. É um desafio muito grande, que encaro com a vontade de acrescentar, de fazer a diferença, de mudar a vida das pessoas. Vem dos seus pais, sobretudo da sua mãe, a vocação para o serviço público? Fale-nos disso, dessa influência familiar… Veio em parte dos meus pais, sobretudo da minha mãe, sim. Ela foi professora, depois foi vice-presidente do Instituto Politécnico de Santarém, foi coordenadora de júris na área dos professores de passagem de grau. Teve responsabilidades significativas no ensino e na educação. Portanto, sempre acompanhei de perto o setor público. Mas confesso que foi no momento em que entrei na UMIC (Agência para a Sociedade do Conhecimento, instituto público que existiu de janeiro de 2005 a fevereiro de 2012) que senti o chamamento, o orgulho de fazer coisas que têm realmente impacto na vida dos cidadãos. A sensação de contributo, por pequeno que seja. A fornada da UMIC é extraordinária… Às vezes, as pessoas dizem: “Vocês, da UMIC, estão em todo o lado”. E volta e meia trabalhamos juntos. Há entre nós aquela identidade de querer fazer o impossível, Criámos a lógica de trabalhar com pequenas startups para resolver problemas com recursos limitados e no menor tempo possível. O elo é muito forte. Éramos miúdos, muito sonhadores… O Diogo Vasconcelos e a Anabela Pedroso foram uma espécie de pais inspiradores, que nos deixaram um ADN de disrupção e de inovação. O Diogo teve a visão, a determinação, a persistência e a loucura. Era aquela pessoa que, às 4h da manhã, mandava mensagem a dizer: “Enviei-te email”. E, cada vez que ele dizia aquilo, nós sabíamos que era porque, no dia seguinte, iríamos apresentar um projeto qualquer ao Primeiro-Ministro, perante 500 pessoas. Um projeto que tinha de ser feito durante a noite! Eram coisas impensáveis na altura. Na Administração Pública não havia nada disto. Para nós, à época, tudo era possível. Se era para fazer, fazíamos! É crente na importância da política? Eu diria que o propósito é das coisas mais importantes na minha vida. Todos os desafios que abracei, fi-lo porque havia uma desígnio naquilo, porque valia a pena. Mesmo, muitas vezes, correndo riscos. Sobretudo correndo riscos. Se há coisa que detesto é a rotina e o dia-a-dia e a zona de conforto. Acho que as cadeiras devem ser desconfortáveis. Todas as cadeiras. Não se muda com cadeiras confortáveis. O risco é a coisa de que mais gosto, apesar do stress e da ansiedade, mas vivo bem com isso. Preciso disso. Já se sente um político? Vê-se a seguir uma carreira política? Dizem-me muitas vezes: “Tu não és político, és técnico”. De facto, tenho um perfil mais técnico e menos político. Hoje, a política é muito diferente do que era há 20, 30, 40 anos. Os desafios são diferentes, as exigências também. Por isso, temos de ser políticos diferentes. A transparência é importante. Temos de explicar às pessoas as mudanças em curso. Elas têm de entender que comunicação não é propaganda. A política deve servir as pessoas. Ora, se adicionarmos a isso a componente técnica, a combinação pode ser muito proveitosa. Não está a ver o lado negativo da política. Está a ser otimista?

“Mesmo com muito caminho já percorrido, queremos revolucionar a Justiça, através do digital” Estou a pensar no tipo de perfis que hoje encontramos na Nova Zelândia, em França, no Canadá. São dimensões políticas que têm competências muito diferentes do que são as tradicionais. Quando se acredita muito no que se está a fazer, sofre- -se quando não se consegue concretizar os projetos. Como lida com isso? É preciso dar a volta, é preciso resistência. Todos temos momentos em que sentimos frustração quando as coisas não correm bem, ou quando não avançam à velocidade que gostaríamos. Não há fórmulas perfeitas. Faz parte da vida. A Justiça é um dos pilares da democracia e uma das áreas mais difíceis de reformar. É um problema para o país? Há uma dimensão de perceção e de comunicação, que, aliás, não acontece só em Portugal. Uma coisa é a dimensão operacional, o acesso à Justiça e, ao contrário do que as pessoas pensam, em termos de pendências na primeira instância, as estatísticas são das melhores nos últimos 23 anos, salvo erro. Ou seja, hoje há em Portugal serviços disponíveis para o cidadão que poucos países no mundo se orgulham de ter. Aliás, neste momento, somos dos países mais inovadores ao nível dos serviços que disponibilizamos. Refiro-me à capacidade de resposta do sistema, à sua humanização, mas também à inovação. Então, é só uma questão de perceção? Não. De facto, ainda não conseguimos dar resposta a tudo. É um desafio grande, complexo. Nós queremos revolucionar a Justiça através do digital, sabendo que há ainda muito por fazer, mas que muito já foi feito. A perceção é algo que é difícil de mudar, porque a Administração Pública comunica mal. Nós associamos, muitas vezes, comunicação a propaganda. E isto é um problema. Portugal é dos países com mais disponibilidade de serviços públicos na área digital e tecnológica, mas estamos abaixo da média na sua utilização, porque as pessoas, em muitos casos, não conhecem. Aqui também há questões de literacia tecnológica, de acesso aos sistemas… 19

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