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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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negocios 38 A rapidez com que a NOS, a 27 de novembro último, seguida da Vodafone, a 30, e da Altice Portugal, a 1 de janeiro, disponibilizaram comercialmente as respetivas ofertas comerciais de 5G, comprova que os três operadores estavam mais do que preparados para um arranque há já muito esperado. E, apesar de todos os atrasos na conclusão do leilão, que colocaram Portugal na cauda da Europa no lançamento destas redes – foi o penúltimo país da UE27 a concluir o processo, a seguir à Lituânia – esta realidade não prejudicou o desenvolvimento da nova geração móvel, face aos demais Estados-membros. Se Portugal ficou prejudicado, foi apenas em termos de imagem. “Fizemos muito barulho durante um ano e escrevemos muita coisa. Fomos alvo, diria, de alguma chacota, em alguns contextos internacionais. Éramos sempre apontados como os que escolheram um processo de leilão muito antiquado. Ninguém gosta de ouvir estas coisas e, enquanto engenheiro português, também não gostei”, admite Pedro Tavares, technology, media & telecom leader da Deloitte. Tendo em conta o que está a acontecer na Europa e em mercados mais desenvolvidos, como a Austrália, Tailândia e EUA, geografias que conhece bem, o consultor assegura que não estamos atrasados. É que os operadores “fizeram o seu trabalho bastante bem e de forma consistente. Com tempo, preparando-se para o dia em que o leilão terminou e as licenças foram disponibilizadas. A prova disso é que no dia em que receberam o papel assinado da Anacom puseram o serviço no ar, num trabalho extraordinário de adequação das suas redes para esta nova realidade. Não perdemos absolutamente nada”. José Rodeia, senior manager da Accenture Portugal, é da mesma opinião: “Os operadores não deixaram de procurar o desenvolvimento da tecnologia, através da Os operadores prepararam-se. O que explica a rapidez com que iniciaram a comercialização do 5G utilização da rede 5G disponibilizada para testes. O que explica a rapidez com que foi iniciada a comercialização do serviço após o fim do leilão”, acrescentando ainda que no B2B recorreram a “parceiros com experiência global, para recuperar tempo e propor e implementar soluções semelhantes ao que está a ser desenvolvido ao nível global”. MOSTRAR POTENCIAL E EVANGELIZAR Mas o que é que mudou, em concreto, com a oferta comercial do 5G, que começou por ser disponibilizado gratuitamente pelos operadores a todos os clientes de todos os tarifários, a título experimental, até 31 de janeiro, e foi posteriormente alargado até 31 de março? A perceção é que, pelo menos para já, não existe ainda nada de diferenciador, até porque a oferta 5G se resume a uma maior velocidade e de forma limitada às zonas que já dispõem de cobertura. “Ainda estamos num período de evangelização”, avança José Rodeia que deixa claro que, apesar de já ser possível aos operadores apostar no mercado B2B, com “use cases provados, alavancados em redes 5G privadas”, o foco terá de ser agora o de trabalhar “com early-adopters que reconheçam o benefício de começar processos de transformação mais cedo e ganhar vantagem sobre os seus concorrentes”. “Os operadores lançaram, porque estavam preparados para isso, o Enhanced Mobile Broadband (eMBB), que permite mais velocidade, mas que, para a esmagadora maioria dos serviços, pouco ou nada conta. O 5G é muito mais do que isso. Foi pensado sobretudo para o B2B e é aí que acho que o trabalho foi menos bem feito, porque é extremamente complexo de se fazer. Os mercados globais não estão preparados e não foram pensados para utilizar tecnologias móveis do segmento empresarial”, acrescenta Pedro Tavares. Na sua ótica, até agora o que os operadores fizeram foi utilizar redes móveis para oferecer voz e dados às empresas e aos seus empregados, numa “espécie de

B2B2C. Mas o 5G significa fazer B2B diretamente”, o que não existe ainda em nenhum mercado, a não ser em casos muito pontuais. “Não vemos utilização do 5G nas empresas para resolver temas como aumentar a eficiência, ou resolver problemas de negócio”, assegura. No fundo, e apesar de admitir a apetência do mercado para criar use cases a uma velocidade cada vez maior, subsiste um grande desafio: “Saber como se vai monetizar estas ofertas. Por exemplo, numa fábrica 5G, onde conseguimos ver a digitalização da maioria dos processos industriais, é preciso encontrar formas de monetização. Como é que isso se vende pelos operadores? Por quanto é que precisam de vender? Por quanto podem comprar os clientes?”. Mesmo nos casos das “geografias mais avançadas, onde há operadores com use cases diferenciados, ainda não fazem dinheiro com o 5G e estão muito longe disso. Todos estes processos têm uma jornada. A seu tempo, iremos encontrar as primeiras implementações com sucesso, que efetivamente resolvam problemas de negócio dos clientes B2B”. E isso só deverá acontecer com uma mudança de fundo nas redes. Enquanto a arquitetura de rede for non standalone (NSA), pouco mais é possível do que disponibilizar ofertas eMBB (maior largura de banda). Só a mudança para uma rede 5G standalone (SA), com a implementação de um core de rede totalmente diferenciado, é que permitirá dar o verdadeiro salto em frente no desenvolvimento de soluções assentes nas novas redes móveis, acelerando áreas como cloud, edge, IA, analítica e automação. DAR TEMPO AO TEMPO Por isso, defende que “é preciso dar tempo ao tempo, para que os operadores se sintam capazes, até financeiramente, para avançar”. É que o tema da capacidade de investimento é crítico num mercado onde os players pagaram mais do que o esperado pelo espetro de “Com o modelo de leilão que foi seguido, trocaram-se resultados imediatos por uma capacidade de os operadores investirem de forma mais massiva em plataformas. É certo que os investimentos não vão dar para tudo”, comenta José Rodeia, senior manager da Accenture Portugal 5G, num setor já massificado e onde as receitas já pouco crescem. No total, o encaixe do leilão foi de 566,8 milhões de euros: 165 milhões foram pagos pela NOS, 133,2 milhões pela Vodafone e 125 milhões pela Altice. Já a Nowo investiu 70 milhões, a Dixarobil 67 milhões e a Dense Air 5,7 milhões. Estimativas do mercado antecipam que os operadores nacionais terão de investir na implantação do 5G valores entre 2,3 e 2,8 mil milhões de euros, nos próximos cinco anos. “Já foi dito várias vezes que, com o modelo de leilão que foi seguido, se trocaram resultados imediatos por uma capacidade dos operadores investirem de forma mais massiva em plataformas que trouxessem competitividade à nossa economia. É certo que os investimentos não vão dar para tudo”, garante José Rodeia. “Os business cases originais foram sendo revistos à medida que o leilão foi progredindo”, acrescenta Pedro Tavares, explicando que houve consequências: “A passagem do 5G non-standalone (NSA)) para o 5G standalo- 39

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