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COMUNICAÇÕES 241 - Joana Mendonça: a arte de cultivar ideias

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a conversa “Aquilo que

a conversa “Aquilo que é a missão da agência tem sido o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi uma oportunidade para pôr em prática muito do que tenho dito e escrito que é preciso fazer” 22 xar de participar em eventos em que seja a única mulher oradora. Os exemplos repetem-se todos os dias. Há umas semanas fui convidada para um evento sobre o futuro da inteligência artificial. Cinco homens, zero mulheres. O futuro da IA não tem mulheres? É um problema sistémico, por isso é que é simbólico eu ser mulher nesta função, na Agência da Inovação. É esse o simbolismo. Temos vindo a fazer um caminho, mas é preciso que as empresas e as organizações adotem a diversidade como máxima de ação. Sendo a primeira mulher a assumir o cargo de Presidente da ANI, sente peso por isso? Não, não sinto (risos). Responsabilidade acrescida? Isso talvez. Mas peso, não sinto. É importante e simbólico. Sendo a primeira mulher, há aquela responsabilidade de que não posso falhar. Mas não me sinto nada condicionada com isto. Às vezes, até pelo contrário. Ainda a estimula mais… Exatamente (risos). Como é que veio cá parar? Fui novamente desafiada pelo professor Manuel Heitor. Ele tem-me desafiado para muitas coisas na vida. O meu trabalho de investigação e a minha abordagem como investigadora passa muito pela importância do trabalho conjunto de aproximação entre a academia e a indústria. Aquilo que é a missão da agência tem sido o foco da minha investigação nos últimos anos. Isto foi uma oportunidade de pôr em prática muito do que tenho dito e escrito que é preciso fazer. Isto sim é que é responsabilidade acrescida, mais do que ser mulher! É ter trabalho científico a indicar o que é preciso fazer e agora ter o desafio de o fazer realmente. Como se sente perante este desafio? Fazer é sempre mais difícil do que pensamos. Mas a forma como enfrentamos as dificuldades inerentes à função é o que faz a diferença. Vim para uma estrutura, com uma equipa espetacular, o que ajuda imenso. Que marca quer deixar? Procura deixar uma “cicatriz”, fazer a diferença, inscrever a sua singularidade? Uma das visões que tenho é a urgência de as organizações verem a ANI como facilitadora. Além disso, a ANI tem de ser conhecida, tem de estar virada para fora.

Quero uma ANI aberta para as organizações e uma verdadeira promotora da cooperação. Para isso, precisamos de uma agência mais inovadora nos processos, para ser um motor ativo do ecossistema, e não apenas passivo, a recolher os inputs de fora. Queremos ser um verdadeiro ator do ecossistema. Quando aqui cheguei, éramos um espetador. Temos ferramentas e equipa para fazer mais. Está cá há um ano, afirmou que a sua meta é que a ANI atue como uma one-stop shop, uma espécie de balcão único para a inovação com diferentes instrumentos. O que já foi feito nesta área e como está a correr? A primeira coisa que fiz foi olhar para tudo de forma integrada, nessa lógica do one-stop-shop. Temos muitas atividades, que eram feitas de forma estanque, dirigidas a universos diferentes. Precisamos de ser capazes de olhar para isto como uma panóplia de instrumentos integrados. Este é o caminho que estamos a fazer. Mas não se faz de um dia para o outro. A própria ANI tem de mudar internamente… Claro. Apostando na digitalização, um caminho que tinha começado, mas que nós acelerámos grandemente. A transição digital é urgente – e estamos a fazê-la, já com a visão de conjunto de que falei. Além disso, definimos a tal visão estratégica para o mandato: a transversalidade, do front office da ANI para o exterior, e o desígnio europeu e nacional da transição para a sustentabilidade, que tem de ser estratégica. Há imensos desafios internos… Sim. A primeira coisa que fiz, logo no meu primeiro dia, a 3 de maio de 2021, foi lançar um concurso interno de ideias. E fiz também outra coisa simbólica: uma reunião Teams com toda a gente, na altura 93 pessoas, e pedi que todas se apresentassem. Disseram-me, depois, que isto nunca tinha acontecido. As reuniões eram, tipicamente, unidirecionais, e não bidirecionais. Foi aí que lancei o tal programa de inovação interno. Quis dar voz às pessoas… Quis empoderá-las. Recolhemos as ideias e agora estamos a estudar como podemos integrá-las. Pedimos às pessoas para proporem um plano de implementação para as suas ideias. Os setores tradicionais portugueses são muito inovadores, ao contrário do que as pessoas pensam. A inovação é transversal A pandemia contribuiu para que as empresas estejam a olhar mais para a inovação como aposta estratégica de futuro? O que posso dizer é que há cada vez mais empresas que olham para a inovação como sendo crítica para a sua produtividade. Isso tem crescido, transversalmente. Temos muitos novos clientes, sobretudo PME, que nos procuram devido aos nossos sistemas de incentivos. A visibilidade da ANI vai ajudar a promover isso. Tem referido que a inovação é um conceito difícil de mensurar. Mas como é que a define? Gosto de citar Schumpeter, economista austríaco que em 1934 lançou um livro em que descreve a inovação como fator de mudança e crescimento nas organizações e o empreendedor como um agente de mudança – e não apenas o dono da empresa. Gosto da noção dele, em que a inovação é uma ideia muito ampla – inovação na estrutura, nos processos, nos produtos, no marketing, etc… Na ANI, os nossos instrumentos estão muito ligados à inovação tecnológica – para ajudar as empresas a diminuir o risco dos investimentos nesta área. Esse é o nosso papel. A criação as Zonas Livres Tecnológicas poderá contribuir para atenuar esse risco? Não. As Zonas Livres Tecnológicas são espaços de experimentação, permitem diminuir o tempo de chegada ao mercado. Quais os setores que mais apostam na inovação? Há vários. Os têxteis, os moldes, a metalomecânica, a mecânica de precisão – setores que tradicionalmente não associamos à inovação. Os setores tradicionais portugueses são muito inovadores, ao contrário do que as pessoas pensam. Mas a inovação é transversal – e é isso que nos tem permitido manter a competitividade. As empresas que não inovem, no longo prazo, estão condenadas. E no setor público? Como se inova aí? Temos uma ferramenta, as Compras Públicas para a Inovação, que permite introduzir melhorias na função pública. Essa é uma das grandes apostas, por causa das verbas para o PRR? 23

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