itech MIGUEL ALMEIDA: Ligação para a vida 32 Foi difícil, mas teve de ser. Há dois anos ele e o telemóvel passaram a ficar, de noite, em quartos separados. Nada que tivesse afetado uma relação que se pode classificar, sem exagero, de indestrutível. No dia a dia nunca se perdem de vista. Texto de Teresa Ribeiro | Fotos Vítor Gordo/ Syncview Há relações que se escolhem, outras simplesmente acontecem. A de Miguel Almeida com a tecnologia não foi planeada. Como aconteceu com os miúdos da sua geração, a sua primeira experiência foi com o ZX Spectrum. Achou graça à interatividade que aqueles jogos proporcionavam, mas esse antepassado das consolas nunca foi para ele mais do que um brinquedo. Realmente marcante para o atual diretor-geral da Cisco foi a chegada dos telemóveis ao mercado. Ainda se lembra dos primeiros modelos, muito grandes, que se usavam nos carros: “Tinham umas antenas que era preciso puxar”, comenta, rindo dessas memórias já com um certo pendor arqueológico e detém-se no tempo em que começou, também ele, a usá-los: “Não estou bem certo de qual foi o primeiro que tive, mas lembro-me bem de um Siemens S4, que me marcou. Tinha uma antena pequenina e um ecrã minúsculo, como todos os telemóveis de meados dos anos 90”. O que mais o fascinou foi a questão da mobilidade: “Poder telefonar a alguém quando se estava no carro, ou na rua, era fantástico!”. Miguel Almeida formou-se em Marketing e Publicidade. Nada na sua escolha académica apontava para um futuro profissional no setor da tecnologia digital, mas foi isso que aconteceu: “O meu primeiro emprego foi num distribuidor de tecnologia, de modo que comecei logo a mergulhar neste universo”. Fazia formações semanais, para se poder familiarizar com os produtos que ajudava a vender: telemóveis, computadores, impressoras, os devices de nova geração que começavam a revolucionar o mercado. Nos anos 90 aconteceu o boom da então chamada Nova Economia. Não havia tópico mais sexy do que falar de “novas tecnologias”, das ainda misteriosas ferramentas que começavam a dar corpo a uma cultura económica disruptiva, mais parecida com a dos filmes de ficção científica que passavam no cinema, do que com a própria realidade. Embora não tivesse sido uma escolha, quando as TI se insinuaram no seu percurso profissional, Miguel Almeida acolheu-as com um entusiasmo que refletia este espírito da época: “Apanhei este novo mundo a crescer e foi muito entusiasmante. Essa experiência ajudou-me a construir as bases de tudo o que hoje sei à volta da tecnologia”. Tal como nesses tempos, o seu fascínio pela mobilidade mantém- -se e agora acrescenta-lhe um outro fator, a conetividade: “Nos últimos 20 anos os temas da mobilidade e conetividade mantêm-se com a mais alta importância. Com a pandemia percebeu-se muito bem até que ponto isto é verdade”. Pessoalmente estas duas valências que as TI oferecem traduzem-se em algo que muito valoriza: a liberdade. É essa sensação de libertação que aprecia quando constata que pode trabalhar em qualquer lado, conectar-se com qualquer pessoa. Algo que compensa a circunstância de viver “sempre ligado”. Há dois anos decidiu impor alguma disciplina na sua relação com o telemóvel, de que nunca se separa, e passou a deixá-lo, quando vai dormir, fora do quarto. Mas não sem antes espreitar uma última vez os emails. Quando se levanta, a primeira coisa que faz é pegar no seu iPhone 11, para ver se chegou correio. Também traz sempre o Surface consigo, porque é prático e fácil de transportar e… last but not least, o seu Garmin inteligente no pulso. Sobretudo nos tempos livres, quando sai com a bicicleta, o relógio é-lhe útil para saber a quantas anda (pulsações por minuto, quilómetros percorridos, informações de GPS), tudo o que esta criatura tecnológica lhe diz, sempre que com ela estabelece contacto visual. Inovação, futuro, disrupção, são palavras que o aquecem. Para Miguel Almeida, viver num meio onde está sempre tudo a acontecer é um estímulo e um privilégio. É verdade que a tecnologia digital aconteceu-lhe por acaso, mas hoje pode afirmar, com segurança, que esse encontro, que não procurou, aconteceu num dia feliz.•
O seu relógio Garmin diz-lhe tudo o que quer saber, sobretudo quando sai com a bicicleta 33
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