1.2 Blockchain crypto currency Começou por ser a tecnologia que está na base das cryptocurrencies, ao permitir validar transações e registos, sem o controlo de uma entidade central e reduzindo os custos das transações. Agora, a tecnologia blockchain promete revolucionar não só o mundo financeiro, mas outras áreas, já que tem a capacidade de transformar modelos de negócio, tornar as transações mais seguras e dificultar os ataques dos hackers e as fraudes. Sendo a primeira vez que, no âmbito deste estudo, o tema é abordado de forma estruturada, torna-se essencial destacar uma substancial diferença entre o conceito de blockchain (a tecnologia) e as criptomoedas (uma aplicação da tecnologia), tão frequentemente confundidos como estando de alguma forma intrinsecamente ligados. De facto, as primeiras aplicações práticas da tecnologia foram realmente as criptomoedas, notoriamente tendo sido a bitcoin a plataforma pioneira que deu a conhecer ao mundo o potencial transformador do blockchain. Esta tecnologia tem sido estudada e desenvolvida enquanto ferramenta de suporte ao desenvolvimento de novos sistemas de armazenamento e processamento de informação, isentos dos riscos de manipulação e controlo da informação por parte de indivíduos ou organizações. Pretende-se substituir o elemento humano por mecanismos automáticos e algoritmos matemáticos, mas em nenhum momento se deve confundir este objetivo com a utilização de inteligência artificial, porquanto em blockchain a plataforma rege-se por regras claramente definidas e aceites consensualmente por todos os participantes. Apresentamos em seguida a caracterização da tecnologia blockchain, a sua fundamentação científica e tecnológica, a significância de cada uma das suas
23 a economia digital principais características no âmbito da construção de sistemas de informação, bem como um resumo das principais implementações existentes atualmente. Dada a relativa juventude e constante evolução desta tecnologia, é notória a existência a nível mundial de um número ainda reduzido de casos de utilização efetivamente operacionais, que se tenham desenvolvido completamente, sendo de destacar a relativa imaturidade das organizações portuguesas em termos de domínio da tecnologia, o que indicia estarmos perante o início de um processo de aprendizagem, investigação e experimentação. Assim, optamos por apresentar um conjunto de casos de uso genéricos, amplamente estudados e testados por diversas organizações a nível internacional, por forma a evidenciar potenciais aplicações práticas por parte das organizações portuguesas. Complementarmente apresentamos ainda o panorama local, com ênfase na constituição da Aliança Portuguesa de Blockchain e no conjunto das iniciativas em curso por parte de instituições académicas e empresas nos mais diversos setores de atividade. Características Concetualmente, blockchain (em português, "cadeia de blocos") tem como fundamento um registo contínuo de dados, eventos ou transações numa estrutura de blocos, ligados entre si e protegidos através de criptografia. Esta estrutura é suportada por um sistema de computação distribuída, acrescentando-lhe características adicionais de segurança, como sejam a resiliência face a falhas ou tentativas maliciosas de manipulação de dados. Historicamente, a primeira proposta de utilização de um sistema concebido com estas características surgiu na sequência do colapso financeiro de 2008, que resultou de desregulação no setor financeiro e da possibilidade de indivíduos e instituições manipularem informação de forma pouco transparente, movidos por ganância. A ideia consistia em conceber uma plataforma onde a informação reside e circula de forma transparente, e onde o fator de risco associado à intervenção humana é eliminado, sendo substituído por elementos automáticos de controlo com base tecnológica e sobretudo matemática. A informação passaria então a ser validada e tornada indelével pelos mecanismos tecnológicos subjacentes à plataforma, assegurando total rastreabilidade dos dados. Fruto do contexto em que a ideia foi concebida, o caso de uso prático para utilização da tecnologia pretendia ser uma forma descentralizada e efetivamente desintermediada de permitir transações financeiras entre quaisquer indivíduos de forma rápida e segura. Estas transações operariam sobre uma representação virtual de dinheiro, as ditas criptomoedas (na conceção original, o bitcoin), e a plataforma atuaria como um registo público de todas as transações financeiras entre participantes na rede, incorporando um algoritmo que permite resolver o potencial problema da dupla utilização da mesma moeda, sem recurso a uma autoridade central. As criptomoedas rapidamente se tornaram populares e neste momento são diversas as plataformas concorrentes no mercado, mas os consumidores têm efetivamente pouca (ou nenhuma) proteção, em virtude de não existir regulamentação ou qualquer garantia de liquidez associada às criptomoedas, que, no entanto, têm tido forte adesão e um movimento especulativo associado que torna o fenómeno indiscutivelmente uma realidade a considerar. De tal forma que diversos bancos centrais têm vindo a considerar seriamente a possibilida- Dada a juventude e constante evolução desta tecnologia, é notória a existência a nível mundial de um número ainda reduzido de casos de utilização efetivamente operacionais em portugal 2018 1.2 Blockchain | Crypto Currency
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