Views
2 years ago

54 - O Futuro com 5G na Saúde

  • Text
  • Futuro
  • Mudança
  • Tecnologia
  • Saúde
  • 5 g
"Canivete suíço" para a mudança

TALKOMMUNICATIONS –

TALKOMMUNICATIONS – “O FUTURO COM O 5G NA SAÚDE” A VISÃO DOS PROTAGONISTAS DA SAÚDE: JOSÉ FRAGATA, VICE-REITOR DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA E COORDENADOR DA ÁREA DA SAÚDE E A PLATAFORMA ESTRATÉGICA NOVA SAÚDE Qual considera ser o potencial de utilização das redes 5G no setor da Saúde? Conjugadas com outras tecnologias, nomeadamente a IA ou a realidade aumentada, a imaginação poderá ser o limite? As redes 5G, pela sua baixa latência e velocidade ultrarrápida (10 – 100 x mais que o 4G), abrem horizontes sem par para a prestação de cuidados de saúde à distância – beneficiando em paralelo os prestadores e doentes – ao permitir conectar virtualmente todos os intervenientes, em tempo real, para som e para imagem. A telesaúde permite estender remotamente os cuidados de saúde a quem a eles não pode aceder, nomeadamente os doentes crónicos, idosos e os confinados ao domicílio. Permite ainda levar expertise médica, que deverá no interesse da experiência estar centralizada, a localizações remotas – servindo assim o acesso e a democratização da Saúde. A enorme quantidade de gigabytes de dados, particularmente imagens, que a Saúde utiliza, têm sido impedimento ao uso generalizado da telesaúde. Com o 5G, estes dados migram agora facilmente, permitindo uma melhor comunicação entre hospitais e sobre os doentes. Daqui resulta mais rapidez e melhor integração de cuidados. A transmissão em tempo real permitirá monitorizar os doentes momento a momento e abre a porta à cirurgia robótica remota, tal a precisão e a rapidez das transmissões ao vivo. O uso de sensores médicos, a “internet das coisas médicas”, muito mais facilitada pelo 5G, permitirá melhor comunicação em tempo real, facilitando a tendência atual para a monitorização a distância. Finalmente, last not least, fica ainda mais facilitado o uso da inteligência artificial e da realidade virtual aumentada, muito em especial ao serviço da cirurgia e do treino cirúrgico por simulação, também promovendo a segurança dos doentes. Tendo em conta os uses cases que já desenvolveu ou espera desenvolver, quais as ambições que tem com o arranque comercial destas redes de nova geração para a sua empresa/grupo? Quais as principais áreas onde poderão retirar mais benefícios? Poderá ser muito mais do que de consultas virtuais, cirurgias à distância ou ambulâncias conectadas? Para utilização imediata, diria a monitorização a distância, nomeadamente de doentes idosos e de doentes após cirurgia complexa. Temos aplicado esta metodologia aos doentes após cirurgia cardíaca que, virtualmente, ficam como se estivessem em cuidados intensivos, mas em suas casas: é mais seguro, mais barato e com enorme satisfação gerada. Certamente que as cirurgias à dis-

11 tância, agora facilitadas pelo 5G, permitem que expertise localizada se torne acessível remotamente, com grande vantagem para os doentes. Quem beneficiará mais com o 5G dentro da saúde? O setor público ou o privado? Tudo dependerá da capacidade de investimento? Quem me conhece, sabe bem que não gosto de dividir a Saúde em pública e privada. Esta é uma divisão artificial por estereotipo político que em nada tem beneficiado os doentes. Direi que esta tecnologia vai beneficiar primeiramente os doentes, ao alcance de um telemóvel, permitindo segui-los em casa. Relativamente a usos “empresariais”, como a cirurgia remota, a partilha de dados para decisão clínica...a exigir um hardware sofisticado, diria que, pelo que nos habituamos nos últimos 15 anos, o setor privado investirá sempre mais, pois é desse lado que tem morado o investimento. A regulamentação do setor poderá ser um entrave à rápida e eficaz implementação do 5G no setor? Antecipa a necessidade de criação de um verdadeiro ecossistema, que envolva todos os stakeholders da cadeia de valor, incluindo o Estado, para acelerar a implementação da tecnologia? Desconheço as necessidades de regulamentação para a rede 5G. Normalmente, quando não se pode, ou não se quer, fazer um investimento evocam-se razões de natureza regulamentar, sendo a necessidade de proteção de dados individuais uma desculpa residente. Claro que essa proteção de dados pessoais terá de estar protegida pelo consentimento individual e defendida pela perfeita anonimização, mas não creio que o 5 G possa aí vir a colidir. Defendo a criação de um ecossistema que envolva todos os stakeholders, pois só assim tiraremos toda a vantagem pelo uso desta tecnologia – em redes. Seria muito importante que o Estado desse o exemplo, mas arriscamo-nos, face ao histórico, a que tema se deixe “poluir” na ligação com os restantes setores de prestação na Saúde. Finalmente, espero que mais esta adição tecnológica – a do 5G – possa contribuir para, com mais tecnologia, melhor personalizar e humanizar o exercício da Medicina. Como dizia o escritor inglês do século passado, Aldous Huxley no seu livro A Brave New World: “by these means we may hope to achieve not indeed a brave new world, no sort of perfectionist Utopia, but the more modest and much more desirable objective – a genuinely human sociey”. Que assim seja com o 5G!•

REVISTA COMUNICAÇÕES

UPDATE

© APDC. Todos os direitos reservados. Contactos - Tel: 213 129 670 | Email: geral@apdc.pt