58 33º Digital Business Congress políticas de regulação capazes de criar ecossistemas de parcerias. Temos 10 milhões de habitantes e praticamente o mesmo número de operadores dos EUA”. “O mercado não tem escala para operar de forma rentável um grande número de redes. Mas, aparentemente, em Portugal, não pode haver consolidações. Não vejo consolidação possível”, ironiza Luís Lopes, CEO da Vodafone Portugal, referindo-se ao impasse que se mantém na compra da Nowo, por decisão da AdC. “A Vodafone apresentou um conjunto de remédios mais fortes que o negócio da Orange em Espanha. Em Portugal, uma operação de concentração de uma empresa com margem residual é vista, do ponto de vista concorrencial, como sendo mais complicada do que aquela que em Espanha deu origem ao maior operador móvel.” Para o gestor, existe no mercado uma “concorrência quase instantânea”, de “respostas constantes, porque há uma guerra grande entre todos os players pela tentativa de ganho de quota por parte de todos. O preço é uma variável entre várias. Não se pode concluir que o setor não é concorrencial, porque tem pacotes parecidos”. Também o CEO da NOS não tem dúvidas de que as consolidações são o caminho. Na Europa e em Portugal, onde “é evidente que não podem existir mais do que três operadores. Não vale a pena pensar noutra coisa. A responsabilidade do regulador e do governo é criarem as condições para a consolidação, porque a tecnologia vai continuar a exigir muitos investimentos. Caso contrário, corremos o risco de o país ficar para trás”. Destacando que nos últimos dez anos as receitas recuaram, houve três novos ciclos de investimento e as taxas regulatórias aumentaram 28% só nos últimos quatro, Miguel Almeida garante que a situação “é insustentável e é preciso fazer algo. Em vez de pensarmos nisto, garantindo o futuro, continuamos a debater a entrada de um novo operador, para destruir ainda mais esta equação”. Para a líder da Altice, há “uma necessidade urgente de compreensão do setor. A postura da ‘nova’ Anacom é um primeiro passo. Se queremos um dia criar um hub da economia digital do país temos de pensar holisticamente”. A realidade é que o setor, na sua perspetiva, não pode ter “uma multiplicidade de players, nem existe espetro para isso”. “Quando na Europa se discute como se garante a rentabilidade e se inverte a tendência, nós estamos a dizer que uma operação de fusão que não muda estruturalmente o mercado não pode acontecer e estamos a louvar a entrada de um novo operador como se fosse algo bom. Mas não é, e vamos ver rapidamente que não é”, acrescenta o líder da NOS. “Estava na hora de, neste país, existir um debate sério que envolva os operadores, regulador e o governo. Trabalhar em conjunto para mudar as coisas. É importante que o novo governo permita isso, porque é benéfico para múltiplos stakeholders. Tem ainda de estar na sua agenda medidas que permitam a sustentabilidade e investimento. E parece que só há uma: a consolidação!”, remata Miguel Almeida No encerramento, o ministro das Infraestruturas e Habitação respondeu a algumas das preocupações dos operadores: “O setor já foi mais fervilhante do que é hoje. Agora, tem margens esmagadas e uma arquitetura regulatória de concorrência que limita muito a ação. Sofreu disrupções sucessivas com a introdução de novos players no mercado, de novas formas de utilização da própria infraestrutura. É, portanto, um setor que tem de se encontrar”. “Enquanto Europa, para liderarmos os próximos ciclos de desenvolvimento ‐ e temos de liderar - precisamos de encontrar novas formas de dar robustez à remuneração de capitais que hoje oferecemos a quem investe. Não tenhamos dúvidas de que temos de o fazer, porque este setor tem externalidades positivas para muitos outros, como a investigação, inovação e retenção de talento, para a projeção do país internacionalmente”, acrescenta Miguel Pinto Luz. Que, por isso, garante que vai tentar colocar na agenda europeia estas temáticas, ao mesmo tempo que acompanhará todo o processo. Sobre a IA, o governante também questiona o posicionamento da UE27. “Se fomos capazes de ser disruptivos em algumas áreas do conhecimento, também poderemos ser aqui, porque a IA é absolutamente estratégica. E já percebemos que não é apenas no plano tecnológico que estamos a falar, mas no plano geopolítico, da competição entre três pólos. Corremos um sério risco de transformar um mundo tripolar num mundo bipolar e que já está ao final da esquina. Onde a Europa vai minguar e ficar cada vez mais irrelevante”.•
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